Arbitrariedade e preconceito
Os argumentos da Bancada do PT em sua declaração de voto contrário ao projeto da lei antifumo, aprovado pela Assembleia Legislativa na última terça-feira, 07 de abril, coincide com as opiniões de diversos segmentos e personalidades que falaram sobre o tema nos últimos dias.
Em sua declaração de voto, a Bancada aponta o fato de que o Executivo ignorou o fato de que o tabagismo é um vício, tanto que o projeto não prevê políticas de saúde para os fumantes. Os deputados petistas também alertaram para o fato de que a lei fere a autonomia dos indivíduos, na medida que induz à delação por parte dos freqüentadores dos ambientes livres de tabaco, assim como obriga o responsável pelo estabelecimento a chamar a polícia, no caso do fumante não abandonar o ambiente onde está fumando.
O autoritarismo da proposta também chama a atenção, já que a lei, que entra em vigor 90 dias após ser sancionada, chega ao extremo de proibir o fumo nas áreas comuns de condomínios. Conheça algumas opiniões de quem duvida da eficácia da nova legislação:
Restrições crescentes à liberdade de escolha no Brasil colocam uma série de questões relativas à formação da opinião pública e aos consensos estabelecidos que são, em boa parte dos casos, de natureza ideológica e política, e não científica. O caso dos fumantes passivos é um bom exemplo disso, na medida em que não há evidências científicas que sustentem o nexo causal entre o câncer de pulmão e os que estão expostos ao fumo alheio. Os estudos são extremamente inconclusivos a esse respeito, não podendo, portanto, respaldar uma política de saúde pública.
Professor-doutor em Filosofia, Denis Rosenfield
Imagino que, a fim de deixar tudo como está, vários donos de bares e de restaurantes já estejam se preparando para entrar com o manjado remédio do mandado de segurança contra a nova lei. Pressuponho que outros pensem em adaptar seus estabelecimentos para receber o anexo de uma tabacaria de fachada, que acabará servindo como área de fumantes.
Colunista da Folha de São Paulo, Bárbara Gancia
É uma lei muito autoritária. Nem em hotel podemos fumar mais. Em qualquer lugar do planeta, se pergunta ao hóspede se ele é fumante ou não.
Escritor Fernando Morais
Parece que o fumante é um grosso, que fuma porque quer, que não se incomoda com os outros. Essa desculpa de que estou fazendo mal à saúde do outro, há controvérsia. Se ficar provado, tudo bem: vamos tirar também quem estiver fazendo mal para mim. Ônibus a diesel? Tira. O outro bebeu e me encheu o saco? Tira. É justo ou não é justo.
Músico do Ultraje a Rigor, Roger Moreira
Temo pessoas que não têm vícios. O novo hipócrita é magérrimo, “verde” e antitabagista
Filósofo Luiz Felipe Pondé
Claro que, como todo mundo com um mínimo de lucidez, aprova medidas restritivas para proteger aqueles que não fumam. Mas é evidente também que a Lei do Serra aprovada esta semana pela dócil Assembléia Legislativa de São Paulo é tão draconiana, arbitrária e discriminatória que até os não-fumantes hão de concordar com o exagero.
Jornalista Ricardo Kotscho no post Cigarro adverte: o governo faz mal
A lei aprovada pela Assembleia paulista contém uma agressão aberta ao direito de liberdade consagrado constitucionalmente e invade esfera de competência privativa da União.
Advogado e ex-secretário municipal de SP, Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira
Houve tempo em que os fanáticos de direita procuravam comunistas até debaixo da cama. Mas nem debaixo da cama o fumante poderá se esconder, pelo o que diz a lei recentemente aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Debaixo de marquises também não. Pode-se fumar em terraços, desde que não tenham cobertura. Assim, quem sabe, será mais fácil identificar o fumante de longe e fuzilá-lo com um rifle de alta precisão.
Colunista da Folha Marcelo Coelho