A insegurança na segurança pública do Estado

18/02/2008 19:00:00

Desgoverno tucano

 

O editorial do jornal O Estado de São Paulo (edição de 16/2/2008) comenta a respeito das ameaças sofridas pelos  os oficiais da Polícia Militar na zona norte da Capital e com o conhecimento do comando: “É, realmente, de estarrecer, o que vem sendo revelado sobre o conhecimento que tinha o comando da Polícia Militar (PM) de São Paulo”…

 

Os deputados petistas atentos às estas questões que envolvem a segurança pública no Estado já tomaram providências, ainda na semana passada. O deputado Vanderlei Siraque encaminhou requerimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, solicitando a convocação do Comandante Geral da Polícia Militar do Estado, Coronel PM Roberto Antonio Diniz, para prestar esclarecimentos a respeito das ameaças aos policiais.

 

Também o deputado Simão Pedro, líder da Bancada do PT, oficiou o secretário de Segurança Pública do Estado para informar qual o número de policiais militares que integram o efetivo da Polícia Militar que presta assessoria policial militar em vários órgãos públicos. Isto porque há indícios de número excessivo de policiais militares acompanhando autoridades do Executivo estadual e prestando serviços nas secretarias.

 

Leia o editorial do jornal O Estado de São Paulo na íntegra: 

 

 


A PM e seus bandidos

É, realmente, de estarrecer, o que vem sendo revelado sobre o conhecimento que tinha o comando da Polícia Militar (PM) de São Paulo a respeito das ameaças que sofriam os oficiais da zona norte, desde que foram abertos 56 processos de demissão de policiais do 18º Batalhão. A cúpula da PM sabia desse crime – ameaça é crime expressamente capitulado na legislação penal -, mas só resolveu afastar das unidades os policiais suspeitos de envolvimento em chacinas e achaques a traficantes da região, depois do fuzilamento do coronel José Hermínio Rodrigues.

Chefe do policiamento na zona norte, Hermínio foi assassinado em 16 de janeiro. Três PMs do 18º Batalhão foram presos logo após o crime e o comando afastou outros 20 policiais de quatro batalhões. Não é possível, evidentemente, afirmar que o coronel Hermínio teria escapado da “execução” se o comando da PM tivesse feito as prisões e afastamentos antes do que fez. Mas permanece o fato de que os suspeitos não tiveram seus passos tolhidos preventivamente, o que no mínimo dificultaria sua capacidade de articulação criminosa.

Veja-se como se chegou à tragédia: a decisão de “pôr ordem” no 18º Batalhão, considerado o núcleo de um grupo de extermínio, foi tomada pelo tenente-coronel João Osório Gimenez Germano, na ocasião – primeiro semestre do ano passado – comandante daquela unidade. Germano teria contado aos colegas que havia muito “polícia-bandido” no batalhão. Iniciados os processos de demissão, começaram a chegar, por telefone, as ameaças ao tenente-coronel Gimenez Germano. Este recorreu ao coronel Hermínio, seu superior, que, entendendo a gravidade da situação, levou o colega ao chefe da Corregedoria da PM. Depois, Hermínio e Germano pediram ajuda ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Os apelos à Corregedoria e à Polícia Civil não surtiram efeito. A única providência tomada foi a transferência do coronel Germano para o comando do 49º Batalhão, em Jundiaí.

Em janeiro foi a vez de o tenente-coronel José Luiz Sanches Verardino, do 5º Batalhão, também na zona norte, ser jurado de morte. Um major do batalhão fez um documento, relatando as ameaças ao seu superior, e o enviou ao tenente-coronel Carlos José da Veiga, comandante interino da zona norte. Suspeita-se que o mesmo grupo que jurou matar Verardino tenha ameaçado um capitão – como informa o repórter Marcelo Godoy em nossa edição de quinta-feira. No dia 16, o coronel Hermínio foi assassinado.

A pedido da promotora Eliana Passarelli, da Justiça Militar, está sendo aberto um Inquérito Policial-Militar para investigar a morte do coronel José Hermínio Rodrigues, porque tudo indica que o crime foi praticado por militares. A promotora quer que se investigue tanto o homicídio quanto as ameaças feitas aos outros oficiais.

O que causa a maior apreensão, nessa guerra da Polícia Militar com seus próprios bandidos internos, é que nem de longe a corporação policial está levando vantagem. Muito pelo contrário, os afastados para outros batalhões, alegadamente em benefício da própria segurança, são aqueles oficiais que de alguma forma se empenharam em dar combate aos “polícias-bandidos”. Ao que consta, o coronel assassinado investigava um casal de policiais do 18º Batalhão que explorava linhas de lotação na zona norte. Os dois agora estão presos por tentativa de homicídio e extorsão contra um perueiro. Ao receber ordem de prisão, o PM atirou três vezes contra policiais do 9º Batalhão. Segundo o Ministério Público o patrimônio do casal é incompatível com o salário pago pela corporação: os dois têm pelo menos seis veículos, custando cada van cerca de R$ 90 mil – enquanto o salário inicial de um cabo é de R$ 2. 280 mensais e, de um soldado, R$ 2.200.

Essa, ao que tudo indica, é a ponta do iceberg. Há, portanto, que se analisar se o comando da Polícia Militar está fazendo tudo a seu alcance para livrar a corporação, cirurgicamente, da sua “banda podre” – deixando assim de estar sob a pressão de seus bandidos internos. Nem é preciso afirmar que essa deve ser a prioridade número um da Segurança Pública do Estado, pois, se submetida a bandidos que nela se abrigam, corporação policial alguma terá condições de combater os outros bandidos.

 

 

 

 

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