Acidente no metrô põe segurança em dúvida

27/11/2009 14:07:00

Falha grave

 

 

Colisão de dois trens entre as estações Ana Rosa e Vila Mariana, no último dia 25, deixou um funcionário ferido. Uma das composições envolvidas é do novo lote da Linha 2-Verde, que já apresentou problemas de eixo e de motor

Em menos de 32 horas, o metrô de São Paulo registrou duas falhas graves, colocando em xeque seu sistema de segurança. No último dia 25, uma colisão inédita entre dois trens deixou um operador ferido. Já no dia 26, uma composição apresentou defeitos na sinalização e circulou, lotada, com as portas abertas. Neste ano, aconteceram ao menos 17 falhas no metrô (leia abaixo).

O choque aconteceu entre as estações Ana Rosa e Vila Mariana, da linha 1-Azul, 33 minutos depois de encerrada a operação, que durante a semana vai até a 0h20. Segundo o Metrô, os condutores manobravam manualmente os trens. Uma das composições estava parada num local chamado tecnicamente de X, por ser a transposição entre os trilhos das linhas 2-Verde e 1-Azul. O condutor do segundo trem vinha da Estação Jabaquara, com destino à Linha Verde, numa velocidade de 20 km/h, quando colidiu contra o trem parado na área de manobra. Ele sofreu ferimentos em uma das pernas e foi conduzido a um hospital.

O trem que estava em movimento é uma das oito novas composições que entraram em operação neste ano na Linha Verde. Em outubro, o Jornal da Tarde mostrou que a frota recém-chegada apresentava problemas nos eixos e de deslocamento das rodas, o que poderia resultar até em descarrilhamento. O problema foi registrado inicialmente no trem 213, que já estava em circulação. Funcionários do Metrô relatam também uma ocorrência de fusão do motor durante a operação. A companhia afirmou que o acidente do dia 25, com a composição 214, não foi provocado por defeitos no trem e que não tem relação com a falha constatada nos eixos, que já teriam sido solucionadas.

Segundo um engenheiro do setor de manutenção do Metrô, os trens que colidiram estavam operando no sistema manual, o que significa dizer que a velocidade e as paradas eram determinadas pelos condutores de acordo com as orientações dos funcionários da central de operação. “Ou o operador não seguiu as instruções corretamente ou ele recebeu alguma informação errada da central. Ainda não dá para saber”, disse o funcionário, com a condição de não ser identificado.

Para João Batista, professor de confiabilidade em segurança da Escola Politécnica da USP , o fato de o sistema estar no modo manual faz com que a ocorrência seja menos alarmante. “Se estivesse no automático, controlado pelo computador de bordo, a velocidade seria maior e o estrago também.” Membro de um grupo da universidade que faz análises de segurança para o Metrô, Batista diz que os passageiros não precisam se preocupar, pois a operação comercial não pode ser feita manualmente, porque comprometeria a velocidade do sistema. “O computador garante a segurança”, afirma.

O delegado Valdir de Oliveira Rosa, titular da Delegacia do Metropolitano (Delpom), afirmou ontem que vai instaurar inquérito policial para apurar a lesão corporal culposa (sem intenção) e os danos causados pelo acidente. O metroviário que se feriu vai ser ouvido pelo delegado. Oliveira Rosa informou que pediu ao Metrô detalhes dos danos causados e solicitou que as duas composições fossem encaminhadas para o pátio do Jabaquara para facilitar a perícia técnica. Uma delas já está no local. O trem que foi atingido continua na estação Ana Rosa e terá de ser serrado para que possa ser transportado. O laudo da perícia deve sair em 60 dias.

Porta aberta

A circulação de trens com a porta aberta, no dia 26, foi registrada pela passageira Glaucy Rodrigues, que filmou o incidente com seu celular e divulgou o vídeo no site da Folhaonline. Lotada, a composição circulou pelo menos entre as estações Luz e Ana Rosa, da Linha 1-Azul, com todas as portas de um vagão abertas. Para que os usuários não ficassem próximos às portas e sofressem acidentes, a segurança do Metrô colocou uma fita amarela no vão aberto.

Os passageiros se surpreenderam ao saber dos problemas de segurança dos nos últimos dias e lembraram dos transtornos que enfrentam diariamente. “O trem para, a porta não abre. Às vezes, a porta não fecha”, diz a faxineira Bruna Bartolo, de 26 anos. “Ando de metrô todos os dias e isso (a colisão) me preocupa.”

FALHAS EM 2009

Problemas registrados nas linhas do Metrô neste ano noticiados pela imprensa. Apenas a batida do dia 25 entre os dois trens não ocorreu durante a operação comercial.

. 26/11 – Composições da Linha 1 – azul circulam de portas abertas após falhas na sinalização

. 25/11 – Na madrugada, dois trens batem entre as Estações Ana Rosa e Vila Mariana

. 12/11 – Falha na Lina 1 atrapalha a circulação dos trens, que têm a velocidade reduzida

. 15/10 – Um trem da Linha 3 – Vermelha é esvaziado após um vazamento de óleo gerar fumaça

. 10/10 – Trem da Linha 1 – Azul é esvaziado após falha. Há reflexos em todas as estações

. 23/9 – Focos de incêndio em um vagão da Linha 1 provocam tumulto na Estação Sé

. 14/9 – Problema em trem perto da Estação Vila Mariana reduz velocidade no sistema

. 11/9 – Falha de um equipamento de via na Linha 1 – Azul aumenta o intervalo entre os trens

. 31/8 – Falha de equipamento de via na Linha 3 – Vermelha reduz a velocidade dos trens

. 27/8 – Problema na sinalização entre a Sé e a Liberdade reduz a velocidade dos trens

. 21/8 – Falha no fechamento das portas de um trem prejudica a circulação na Linha 2 – Verde

. 4/8 – Falha elétrica interrompe circulação de trens entre duas estações da Linha 5 – Lilás

. 22/7 – Falha de equipamento de via atrapalha a circulação dos trens da Linha 3 – Vermelha

. 14/7 – Uma falha no equipamento de via prejudica a circulação na Linha e por quase 3 horas

. 24/6 – Falha no sistema de tração de uma composição prejudica a circulação na Linha 1 – Azul

. 26/2 – Pane elétrica na Linha 3 faz com que o intervalo chegue a meia hora na estação Pedro II

. 27/1 – Problema na tração de dois trens fazem a circulação ser prejudicada na Linha 3

. fonte: Jornal da Tarde – 27/11/2009 – reportagem: Fábio Mazzitelli, Felipe Grandini, Naiana Oscar e Eduardo Reina

 

 

 

 

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