Dinheiro no lodo
Alckmin fracassa na despoluição do Rio Pinheiros e artista chama atenção: O cheiro do rio anestesia nossa consciência
Moradores e visitantes da cidade de São Paulo foram surpreendidos com a intervenção urbana as margens do Rio Pinheiros, com a escultura de um senhor sobre um trampolim azul, que parece estar próximo de saltar no rio.
A instalação é do artista plástico Eduardo Srur, que diz querer que as pessoas pensem na importância da recuperação das águas do rio. “O cheiro do rio anestesia nossa consciência”.
“A ideia surgiu ao olhar pela janela do meu ateliê e ver um erro urbanístico numa das regiões mais ricas de São Paulo”, conta Srur, em referência à poluição das águas.
Fracasso caro
O sistema foi encampado em 2001, pela gestão do governador Geraldo Alckmin, em seu primeiro mandato e consistia em reunir a sujeira em flocos na superfície da água para posterior remoção. No Pinheiros, o método se mostrou ineficiente e caro. A aposta de 2001 foi inédita: nunca havia se tentado limpar água via flotação num rio do porte do Pinheiros, com 25 km. A tecnologia é usada em lagos e mineração.
No lançamento do plano, especialistas já alertavam para o risco de fracasso. “A flotação foi um erro. A poluição do Pinheiros é de esgoto doméstico. O conceito
O governo manteve a defesa firme do método nesses quase dez anos. Classificava-o de “simples e inovador”.
R$ 160 milhões jogados fora
Em um acordo na Justiça em 2007, o Estado aceitou testar a flotação em um trecho menor do Pinheiros e submetê-lo à Promotoria. A execução no rio todo, projeto ao custo de R$ 350 milhões, ficou condicionada ao aval dos promotores.
Os últimos testes, concluídos em 2010, mostraram que a flotação não barrava o nitrogênio amoniacal, um indicador de esgoto na água, e gerava grande volume de lodo.
Um canal foi construído para mais testes, mas nunca foi usado. Dos R$ 160 milhões, metade saiu da Petrobras e a outra parte do Estado. A estatal federal bancou o início do projeto e o deixou em 2007, ao saber de novos gastos. O Estado custeou ainda a retirada dos aparelhos da flotação do rio Pinheiros e o transporte do lodo.
Poluição do Rio Tietê também piora
O trecho do Tietê entre Guarulhos e Pirapora é o mais poluído do rio. Em meses de seca, a concentração de poluentes aumenta. Em janeiro, por exemplo, a quantidade de matéria orgânica na barragem da Penha, segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, era 23 miligramas por litro. Em fevereiro, era 22 miligramas por litro. Em maio, pulou para 93 miligramas por litro, quase o dobro do registrado no mesmo mês do ano passado. O doutor em engenharia de recursos hídricos e professor da USP, Arisvaldo Vieira Mello Júnior, diz que o número é muito alto e que contribui para matar o rio nesse trecho.
Coliformes, matéria orgânica, nitrogênio e fósforo são os poluentes mais encontrados no Tietê. No Reservatório de Pirapora também houve aumento na concentração de matéria orgânica. Em maio a quantidade era de 57 miligramas por litro. No mesmo mês do ano passado, era 50 miligramas por litro. O gerente da divisão de águas e solo da Cetesb, Nelson Menegon Júnior, explica que a estiagem deixa a vazão do rio menor, o que prejudica a diluição de poluentes.
A chamada poluição difusa também contribui para aumentar a concentração. Uma única chuva pode ter levado mais poluentes para o rio. O professor Arisvaldo Vieira Mello Júnior diz que, para evitar o aumento na época de estiagem, medidas preventivas deviam ter sido adotadas no passado.
A Barragem da Penha e o Reservatório de Pirapora são os piores pontos do Tietê. Ao mesmo tempo que apresentam altas concentrações de matéria orgânica, registram pouco oxigênio. E maio, o nível de oxigênio diluído no Reservatório de Pirapora era de apenas 0,07 miligramas por litro. Na Barragem da Penha, era de 1,22 miligramas por litro.(rm)
Fontes: Jornal Folha de S. Paulo e Rádio CBN