Propina tucana
Arquivos de diretor da Camargo Corrêa têm nomes de autoridades ao lado de valores em dólares e comprovantes de transferências Justiça considera que, sem evidências dos pagamentos, documentos não são provas contra pessoas citadas nos documentos apreendidos
O relatório final da Polícia Federal sobre a Operação Castelo de Areia, que foi suspensa ontem (14/1) pelo Superior Tribunal de Justiça, revela que as principais evidências de um suposto pagamento de propina por parte da Camargo Corrêa a políticos ou autoridades públicas partiram de arquivos pessoais e extremamente detalhados do diretor da empresa Pietro Francesco Giavina Bianchi.
Em dezenas de anotações manuscritas, digitalizadas e arquivadas em dois pendrives atribuídos a Bianchi, há informações sobre o andamento de obras públicas com o nome de autoridades públicas e valores em dólares e em reais.
Em alguns casos, o documento é seguido por comprovantes de transferência bancária internacional, os chamados “swifts”, cujos valores eram similares ao do suposto pagamento -o que leva as autoridades brasileiras a acreditar num suposto acerto de contas no exterior. A PF interceptou pelo menos 300 “swifts” que foram transmitidos via fax.
A Folha apurou que, para a Justiça, apenas os documentos digitalizados e apreendidos, sem uma comprovação efetiva da ocorrência de pagamentos, não configuram por si só prova contra as pessoas citadas.
A investigação da Polícia Federal para aprofundar a investigação só poderá continuar após decisão final do Superior Tribunal de Justiça sobre a decisão de ontem.
Num dos papéis apreendidos com Bianchi, há referências à Linha Verde do metrô (Alto do Ipiranga-Vila Madalena) -a Camargo Corrêa integra o consórcio Via Permanente, que cuida da expansão da linha.
Detalhes
No documento, está escrito “TCE”, “Ed Bitt” e “Roc Citadini”. Para a PF, são referências aos conselheiros do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) Eduardo Bittencourt e Roque Citadini. Há a anotação de “US$ 490.000”, que seria dividido em cinco vezes, com o primeiro pagamento em 1º de novembro de 2007.
O TCE é o órgão responsável pela análise e aprovação de todos os contratos públicos.
O nome de um terceiro conselheiro do TCE-SP, Robson Marinho, também surge na documentação, sempre em planilhas que tratam de obras do metrô. Os três conselheiros negam qualquer envolvimento ilegal.
No computador da secretária de Bianchi, Darcy Alvarenga, a PF encontrou uma tabela com quase 200 siglas e seus respectivos significados, como “PMM” para metrô, “ALW” para “Walter Feldman” (secretário municipal de Esportes de São Paulo), “CPG” para “Camargo Político Genérico” e “DEP” para “CPA Deputados”.
Em todos os documentos atribuídos a Pietro há anotações das siglas, numa referência às obras. Para a PF, o uso de siglas era uma forma de mascarar o verdadeiro assunto.
Se a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça entender que a investigação da Castelo de Areia começou de forma ilegal, todas as provas serão anuladas.