Eleição na USP
Professor titular do Instituto de Matemática e Estatística, Francisco Miraglia foi o único candidato que aceitou o convite para audiência na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa. Miraglia esteve hoje com a presidente da Comissão, Maria Lúcia Prandi, e com o deputado Adriano Diogo.
Os candidatos Armando Corbani (pró-reitor de Pós-Graduação) e Glaucius Oliva (diretor do Instituto de Física de São Carlos) justificaram a ausência. Os demais ignoraram o convite para a audiência pública, que foi solicitada pelo líder da Bancada do PT, deputado Rui Falcão.
O candidato, apoiado por alguns dos mais importantes intelectuais do País, criticou a Universidade Virtual do Estado de São Paulo, Univesp, lançada pelo governador José Serra, a atuação de fundações privadas na universidade pública e a repressão policial violenta contra os uspianos, no dia 09 de junho. O professor também criticou a interferência de Serra na Assembleia Legislativa.
Há uma influência perniciosa e antirepublicana do Poder Executivo na Assembleia, que deveria ter a obrigação de receber e atender as reivindicações dos trabalhadores e da população,
A presidente da Comissão de Educação, Maria Lúcia Prandi, confirmou as críticas de Francisco Miraglia. Enfrentamos dificuldade para propor discussões e até para aprovar audiências públicas. Já houve momentos em que a pressão popular na Assembleia era maior, mas agora algumas entidades sindicais até se afastaram, explicou a parlamentar.
Investimento reduzido
Para Miraglia, o diálogo com a Assembleia e os demais segmentos da sociedade é muito importante para a USP. As universidades públicas têm a obrigação de prestar esclarecimentos à população que financia o ensino e a pesquisa, mas, às vezes, consideram-se acima destes deveres..
Caso seja eleito, Miraglia prometeu debater com a Assembleia e os sindicatos de docentes de ensino superior a privatização da Educação no Estado de São Paulo. As universidades particulares têm uma concessão para prestar um serviço, que deveria ser público. Por isso, temos que enfrentar o lobby privatista, que não respeita os direitos sindicais e até demite os acadêmicos que mais evoluíram na carreira, disse o professor.
As principais propostas de Francisco Miraglia são a formação de grupos multidisciplinares de professores e estudantes da USP para a avaliação de reivindicações da população e a apresentação de políticas públicas que solucionem os problemas e um amplo debate sobre a reforma tributária e os investimentos nas universidades públicas.
A recomendação internacional é de investimentos de 1,5% do Produto Interno Bruto no ensino superior e de 2,7%, quando houver também pesquisas científicas, que é o caso da USP. Mas, o governo de São Paulo investe apenas 0,5% e, ainda assim, de imposto indireto, que é o ICMS, criticou Miraglia, que apresentou ainda aos parlamentares esclarecimentos sobre a atuação de fundações privadas de apoio à universidade.
Ação no MPE
De acordo com o professor da USP, o Ministério Público Estadual já entrou com ação civil contra os cursos promovidos pelas fundações na universidade. Estas fundações são privadas, mas não atuam nas grandes empresas porque seus diretores seriam presos se utilizassem os recursos dos empresários em benefício próprio, como fazem na USP, ironizou Miraglia.
A deputada Maria Lúcia Prandi relatou que a atuação das fundações na USP já foi alvo de denúncias na Comissão de Educação, devido a indícios de abusos, excessos e desvio de recursos.
O deputado Adriano Diogo lembrou que, além dos problemas financeiros, a USP enfrenta também uma administração conservadora. A USP teve um papel relevante em vários momentos históricos, mas a atual reitoria autoriza até repressão policial contra os estudantes, como na época da ditadura, lamentou o parlamentar.
Entre os intelectuais que apoiam a candidatura de Miraglia estão Antonio Cândido, Aziz AbSaber, Fábio Konder Comparato e Marilena Chauí. O segundo turno das eleições para a Reitoria da USP será realizado amanhã.
A lista com os três candidatos mais votados será enviada ao governador José Serra, que irá escolher o reitor que irá substituir Suely Vilela à frente da universidade.