Comissão da Verdade
Presidida pelo deputado Adriano Diogo, a Comissão Estadual da Verdade dá continuidade a série de audiências públicas para ouvir relatos de testemunhas dos casos de mortos e desaparecidos durante o período da ditadura militar.
Nesta quinta-feira (14/3), mais casos serão abordados:
. 10h30 – casos de Heleny Guariba e Paulo de Tarso Celestino
. 14h casos de mulheres sobreviventes da repressão
As audiências serão realizadas no Auditório Teotônio Vilela, no 1º andar da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo – Avenida Pedro Álvares de Cabral, 201 Ibirapuera São Paulo SP.
Comissão da Verdade ouve testemunhas sobre morte de militantes do Molipo
Membros do Movimento de Libertação Popular (Molipo), Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck Machado, foram assassinados por órgãos de segurança em 17/5/1973, na fazenda Rio Doce, entre os municípios de Rio Verde e Jataí, em Goiás. Enterrados anonimamente próximo do local, suas ossadas sumiram quando, depois de localizadas, estavam prestes a ser exumadas a pedido do Comitê Brasileiro da Anistia/São Paulo, em 1980. Quando teve acesso ao local, o comitê encontrou apenas pedaços de ossos e dentes. Presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva reuniu-se na terça-feira, 12/3, para ouvir testemunhas sobre a história de Maria Augusta e Márcio.
Ex-preso político e militante do Molipo, Artur Machado Scavone lembrou que a estrutura do movimento, no começo dos anos 1970, por força da repressão, estava muito compartimentada. “Havia uma preocupação muito grande com o isolamento a que estávamos sendo conduzidos. O Molipo era uma tentativa, quase desesperada, de reconstituir um vínculo político da resistência armada com a sociedade, de mostrar que não éramos um bando de terroristas”, afirmou.
Scavone revelou ainda que, em 1971, Maria Augusta foi vítima de uma emboscada e passou um período de recuperação junto com ele, num aparelho em São Paulo. Preso em fevereiro de 1972, Scavone ficou no DOI-Codi por nove meses, transferido depois para o presídio Tiradentes.
“Em 1973, fui levado de volta para o DOI-Codi para novos interrogatórios, e fiquei numa das celas do andar superior, numa espécie de isolamento, para não manter contato com os presos recentes, que ficavam nas celas de baixo”, disse Artur.
Ali ele ficou sabendo sobre as buscas e a possível localização de Maria Augusta e Márcio e, por meio de frestas na cela, testemunhou a movimentação de veículos militares. Esses elementos lhe deram a convicção de “que a operação de assassinato de Maria Augusta e Márcio foi coordenada pelo DOI-Codi, que nessa época era comandado por Carlos Alberto Brilhante Ustra”.
A comissão ouviu também Max Aniz Thomas, irmão de Maria Augusta. Ele traçou o perfil da irmã como uma pessoa generosa e questionadora, cuja atuação política em São Paulo era desconhecida pela família, que morava em Leme. “Depois de presa no congresso da UNE em Ibiúna, em 1968, ela voltou para Leme, mas por pouco tempo. Logo estava novamente em São Paulo. A partir daí os contatos com a família foram ficando mais raros”, disse Thomas.
Ele lembrou ainda que, em 1969, Leme “foi invadida por tanques, caminhões e aviões buscando Maria Augusta. Invadiram nossa casa e interrogaram nossos pais. Soubemos então que Maria Augusta era suspeita de participar do sequestro de um boeing da Varig em Buenos Aires, desviado para Cuba.”
Maria Augusta de fato tomou parte nessa ação. Ela permaneceu em Cuba, onde passou por treinamento de guerrilha até 1971, quando retornou clandestinamente ao Brasil, junto com Márcio. Em 1973, eles foram deslocados para Goiás, como parte da estratégia que pretendia transferir a resistência armada da cidade para o campo.
“Uma coisa é importante que fique clara: a luta armada era uma luta de resistência. Sua essência era a resistência à barbaridade da repressão política, do amordaçamento e da perseguição à vida civil em todos os seus espaços”, concluiu Artur Scavone.
fonte: Agência Alesp