INJUSTIÇA

Grupo ligado à universidades paulistas mapeou mais de 52 mil homens e mulheres do campo envolvidos em conflito entre os anos de 2014 e 2015
Mais de 52 mil pessoas foram vítimas de situações de conflito no meio rural do estado de São Paulo entre os anos de 2014 e 2015. É o que mostra o relatório inédito do Observatório dos Conflitos Rurais em São Paulo, que reúne pesquisadores de diferentes universidades paulistas e militantes sociais da área de Direitos Humanos.
A publicação tem apoio do Centro de Estudos Migratórios, do Centro de Estudos Rurais (Ceres) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Fundação Rosa Luxemburgo, da Comissão Pastoral da Terra, do Serviço Pastoral dos Migrantes e do núcleo paulista da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra).
Os resultados serão apresentados amanhã (13), no seminário “Lutas Sociais Hoje e a Questão Agrária em São Paulo”, que é realizado em São Paulo, das 9h às 17h, no auditório do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região (Rua São Bento, 413, Centro).
O grupo coletou, analisou e sistematizou casos noticiados em veículos de imprensa, registrados por órgãos públicos, além de situações verificadas em atividades de acompanhamento. Foram documentados 174 episódios de conflitos nos anos analisados, envolvendo diversas populações. O grupo com mais notificações (36.558) foi o de assentados, acampados e agricultores familiares, seguido pelo de assalariados rurais (16.430) e de populações tradicionais (6.768).
Perfil
O documento traz ainda informações sobre os tipos de conflitos mais recorrentes e as regiões do estado em que elas ocorrem em maior número. Foram listados oito tipos de conflitos: atos e manifestações; destruição de benfeitoria ou patrimônio; divergências com grupos empresariais; divergência com órgãos oficiais; expulsão, despejo ou desapropriação; ocupação de propriedade; proibição para uso tradicional do território; questões trabalhistas e violência contra a pessoa e a comunidades.
Análise
Apesar de o meio rural em São Paulo ser tido como moderno e economicamente avançado, os dados indicam situações de exploração e desigualdade social no campo. O desenvolvimento levado à cabo no campo paulista acaba por criar novas formas de produção e, consequentemente, recria antigas práticas de exploração com características modernas. Temos visto isso, por exemplo, no avanço da exploração mineral, em alguns municípios e na expansão da especulação imobiliária de áreas com atrativos naturais, ambas gerando uma série de conflitos entre os representantes destes empreendimentos e as comunidades que já residiam nesses territórios, explica Gabriel Teixeira, integrante do Observatório. Também são apontados conflitos envolvendos pequenos agricultores e assalariados rurais no contexto do agronegócio, sobretudo da cana-de-açúcar e da laranja.
O dossiê, que foi feito com o envolvimento de pesquisadores, movimentos populares e sindicais, conta ainda com a análise de integrantes de organizações diretamente envolvidas nas situações de conflitos. se amplia o papel da especulação imobiliária, particularmente da construção civil, que junto com o agronegócio e com as atividades petrolíferas e do setor de mineração, impõe mais intensidade ao processo de concentração de terras, diz texto assinado pela direção estadual de São Paulo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O Observatório
O Observatório dos Conflitos Rurais em São Paulo é um grupo composto por pesquisadores de universidades públicas paulistas e militantes sociais da área de Direitos Humanos, interessados em acompanhar e documentar casos de conflitos rurais e situações de violência no campo. Tem como tarefa principal articular iniciativas junto a movimentos sociais e sindicais no campo de forma a ampliar o canal de diálogo entre eles e a sociedade civil, construindo ações que ofereçam visibilidade às injustiças sociais, além de produzir informações e dados sobre conflitos no campo paulista que subsidiem as entidades e movimentos sociais.
SERVIÇO
Atividade de lançamento do Dossiê Lutas Sociais no Campo
Dia 13/05/2017, das 9h às 17h
Fonte: Observatório dos Conflitos Rurais em São Paulo