Corrupção é risco de vida para usuários e funcionários

23/09/2013

Panes diárias

Nas mãos de interesses privados, manutenção de Metrô e trens se torna precária e sistema inseguro. A média de panes elétricas nos trens da CPTM da linha 9 (Esmeralda), foi de uma pane a cada 2,2 dias em 2012

A corrupção nos contratos do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) com empresas privadas vem acompanhada de uma mudança no conceito de gestão que resulta na piora do serviço e aumento no número de falhas na operação e nos acidentes. A alteração ocorreu tanto na forma de contratação de obras quanto na rotina de manutenção de trens e trilhos, colocando a vida de usuários e funcionários do sistema sob risco constante. “Vocês estão numa roleta russa”, disse um engenheiro da manutenção do Metrô ao operador, durante procedimento de teste. “Estávamos testando um dos trens da frota K, que tinha acabado de vir da reforma. Estão todos com problema”, disse o operador.

Para entender como os mal feitos afetam o cotidiano da população, a reportagem da Caros Amigos procurou operadores de trens, técnicos de manutenção, engenheiros e diretores tanto da CPTM quanto do Metrô, que descreveram um quadro assustador. Pressionados, apenas os dirigentes sindicais, protegidos pela garantia de estabilidade, concordaram em falar abertamente. Os demais, como o operador que recebeu o alerta do engenheiro, só falaram com a garantia de que não seriam identificados.

A pressão sobre os funcionários faz parte da blindagem construída pelo governo paulista na gestão pública e que garante permanência do cartel em São Paulo, investigado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e liderado pela Siemens e Alstom em conluio com o tucanato. “Eles tiraram o acesso ao sinótico (painel que mostra a movimentação de trens) dos maquinistas para evitar o monitoramento do número de falhas”, conta José Floriano de Araújo Júnior, diretor executivo do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Central do Brasil (Sindicato da Central do Brasil). A medida veio depois que até mesmo a conservadora e tucana Rede Globo noticiou a média de panes elétricas nos trens da CPTM da linha 9 (Esmeralda), que foi de uma pane a cada 2,2 dias em 2012. “Agora temos apenas os avisos do centro de operações para saber como está a linha”, completa.

A blindagem envolve também os promotores do Ministério Público Estadual (MPE) e os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE), com apoio da base tucana na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), que postergam e esticam ao máximo o trâmite dos contratos. O líder da bancada do PT na Alesp, Luiz Claudio Marcolino, cita o caso do consórcio Consmac, formado pela Alstom e pela CAF, para manutenção de trens da CPTM, firmado em 2002. “Levou cinco anos tramitando no TCE e a irregularidade só foi referendada pela Alesp em setembro de 2012. Só então foi encaminhado para o MPE”, diz Marcolino. O inquérito foi instaurado em novembro do mesmo ano por iniciativa do promotor Marcelo Milani.

*fonte: Caros Amigos

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