Desvio de dinheiro
Depoimento do empreiteiro, Wandir Falsetti, à Corregedoria da Polícia Civil, denunciou que a polícia paulista pagou R$ 40 mil, em notas, sem exigir recibo ou nota fiscal. Isso é uma característica clara de caixa dois.
De acordo com Falsetti, o fato ocorreu em outubro de 2009, no 9º andar Palácio da Polícia, onde funciona a cúpula da delegacia geral, na região central de São Paulo. O empreiteiro conta que sua empresa, a Arte Nossa Soluções para Home & Office, reformou em 20 dias o prédio que desde fevereiro do ano passado abriga o Denarc (Departamento de Narcóticos), no Bom Retiro,também na Capital.
Falsetti explicou que o dinheiro foi entregue pelo delegado Marcus Vinicius Vieira, de um órgão chamado Apafo (Assistência Policial para Assuntos Financeiros e Orçamentários).
À época, o governador do Estado era José Serra
A obra, orçada em R$ 200 mil, foi realizada sem licitação ou qualquer outro documento oficial, segundo o delegado Everardo Tanganelli Jr., chefe da divisão de narcóticos até fevereiro de 2009.
Os próprios policiais ajudaram a pagar a mudança e parte da reforma, afirma Tanganelli Jr. Ele diz ter dado R$ 20 mil para o empreiteiro. O chefe dos investigadores entregou um carro, uma Montana 2007, no valor de R$ 28 mil. Outros três policiais deram R$ 33 mil, diz o empreiteiro. Ele reclama que o Estado lhe deve R$ 80 mil.
O raciocínio por trás da investigação da Corregedoria é mais ou menos óbvio: policiais que dão dinheiro do próprio bolso a um empreiteiro vão tentar, um dia, recuperar esses valores.
Tanganelli Jr. foi afastado do Denarc no início do ano passado pelo secretário da Segurança, Antonio Ferreira Pinto, por causa das sucessivas suspeitas de que policiais de sua equipe recebiam propina de traficantes de droga. Tanganelli Jr. e os policiais que pagaram parte da obra estão sob investigação da Corregedoria da Polícia Civil.
Verba de operações policiais sigilosas
Uma das hipóteses da Corregedoria da Polícia Civil é de que a origem do dinheiro usado para pagar parte da reforma do prédio seria a verba de operações policiais sigilosas.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) havia alertado em fevereiro a Secretaria de Segurança, para a falta de controle dos gastos e pedido mudança na prestação de contas.
A apuração sobre o desvio da verba de operações sigilosas está nas mesas da assessoria da Procuradoria Geral de Justiça desde junho de 2009. Até agora não foi aberto nem mesmo inquérito para apurar o suposto peculato praticado por funcionários do gabinete da secretaria durante as gestões de Saulo Abreu e Ronaldo Marzagão, quando mais de R$ 3 milhões teriam sido desviados de sua finalidade.
Parte do dinheiro teria sido usada para pagar contas particulares dos chefes de gabinete da secretaria, segundo documentos revelados por Carlos Jorge Santana, funcionário da secretaria. Tudo foi enviado ao procurador-geral Fernando Grella Vieira, que o passou à sua assessoria jurídica. Esta concluiu a apuração em março pela inexistência de crime ou improbidade praticados pelos ex-secretários. O jornal O Estado de São Paulo apurou o caso não havia voltado até a semana passada à Promotoria de Defesa do Patrimônio Público. Parte das acusações de improbidade pode prescrever neste ano. No Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), não havia informação de inquérito policial sobre o caso.
*com informações dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo