Depois de 12 anos de aprovação automática, analfabetismo funcional já atinge 13,8% dos jovens

14/09/2010 16:29:00

Rede estadual de ensino

 

A descontinuidade de políticas na Educação e os erros dos projetos adotados durante as últimas gestões tucanas no Estado de São Paulo – Alckmin/ Serra – produziram uma unanimidade entre especialistas do setor: é preciso urgentemente recuperar a credibilidade da Escola Pública e interromper o ciclo responsável pelo analfabetismo funcional.

As escolas estaduais de São Paulo recebem cerca de 5 milhões de alunos e empregam aproximadamente 220 mil professores; 46% deles ou 101 mil admitidos em caráter temporário. As péssimas condições de trabalho e os baixos salários são motivo de preocupação não apenas para a categoria, mas também para pais e alunos da rede estadual.

O último Saresp – Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar de São Paulo – reflete as dificuldades que os professores encontram para ensinar em condições tão adversas. Matemática é a disciplina que registra as médias mais baixas. Aproximadamente 60% dos estudantes do 3º ano do ensino médio têm baixo conhecimento da disciplina, que é uma das que têm maior déficit de professores com formação específica.

A falta de professores preparados para ensinar aos alunos conceitos mais complexos compromete a qualidade do ensino e amplia o analfabetismo funcional. Segundo dados do PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios -, a taxa de analfabetismo funcional de jovens com mais de 15 anos em 2009 foi de 13,8%. No Ensino Médio, o percentual de jovens que não estudam também é bastante alto: 13,2% estão fora da escola. São mais de 240 mil estudantes.

Segundo a Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura -, o analfabeto funcional sabe escrever seu próprio nome, assim como ler e escrever frases simples, até efetua cálculos básicos, mas é incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e a escrita em atividades do dia-a-dia.

A crise no ensino público ampliou o número de pessoas nesta condição, ‘incapazes de elaborar o conhecimento’, característica do analfabetismo funcional, e tornou-se uma preocupação não apenas para educadores e especialistas, mas para empresas e empregadores, que já encontram dificuldades para preencher vagas com profissionais melhor qualificados.

Além da falta de professores, há outro fator responsável pelo fenômeno: a progressão continuada, adotada a partir de 1998 em São Paulo. Apesar de ser considerada uma metodologia pedagógica avançada por especialistas, a progressão transformou-se em sinônimo de aprovação automática dos alunos da rede estadual paulista, devido à falta de condições estruturais e de formação dos professores.

O método, que permite ao aluno avanços sucessivos e sem interrupções nas séries ou ciclos do ensino, tornou-se uma forma de melhorar indicadores de repetência e evasão escolar, sem preocupações com a qualidade do ensino. O resultado é visível: jovens que, muitas vezes, chegam às universidades sem o conhecimento de conteúdos básicos que deveriam ter sido aprendidos no ensino fundamental e médio, como o domínio da própria Língua Portuguesa.

 

 

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