Onda de violência
Passado um mês da série de 23 assassinatos ocorridos na Baixada Santista, a Polícia identificou apenas um dos policiais militares suspeitos de participar dos homicídios. O acusado deve ser indiciado até a próxima semana. A principal linha de investigação aponta PMs como responsáveis pela matança.
O assassinato de um policial da Força Tática, em Vicente de Carvalho, no Guarujá, teria dado início à série de crimes. Após o PM ter sido morto, outros policiais teriam feito um juramento para matar mais de 50 pessoas em toda Baixada Santista, ação que foi abortada após a chegada da Tropa de Choque na região.
Para os deputados do PT que participaram da audiência pública realizada na última sexta-feira (14/5) em Santos, que discutiu essa onda de violência na Baixada, a política de segurança pública no Estado de São Paulo deve ser rediscutida, pois não se pode aceitar um governo que diz que segurança é prioridade, enquanto paga baixos salários para os policiais e não prioriza ações de inteligência para prevenção do crime.
A audiência foi uma iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, presidida pelo deputado José Cândido, do Movimento Mães de Maio e do Fórum da Cidadania de Santos, com o apoio dos deputados Fausto Figueira e Maria Lucia Prandi. O encontro contou com a presença do ouvidor nacional da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Fermino Fechio, e reuniu autoridades judiciais, policiais, deputados, vereadores e representantes de entidades civis.
Também participaram familiares de jovens mortos nos ataques criminosos do mês passado e de maio de 2006, quando uma série de execuções primárias varreu o Estado de São Paulo, matando pelo menos 532 pessoas, muitas da Baixada. Todos estavam inconformados com as mortes violentas e o arquivamento dos casos sem que a autoria fosse esclarecida.
O comandante da Polícia Militar na região, coronel Sergio Del Bel, admitiu que há indícios fortes de participação de policiais nos assassinatos. O ouvidor da Polícia Estadual, Luiz Gonzaga Dantas, afirmou que pedirá ao procurador-geral de Justiça do Estado, Fernando Grelha Vieira, que solicite a reabertura do inquérito. O defensor público Antônio Maffezzoli reiterou os motivos que levaram ao pedido de federalização, com novas provas, que podem mostrar a relação entre os crimes de maio de 2006 e os recentes episódios.
Temos que recuperar a confiança no Estado brasileiro e este não é um problema de uma parcela da comunidade, é de toda a sociedade. A polícia tem que ser algo querido pela população e não temido, enfatizou o deputado Fausto Figueira, que também cobrou do Estado resposta para as mortes sem apuração ocorridas tanto em 2006 quanto agora.
Precisamos da polícia, mas de outra polícia. Precisamos limpar a polícia de policiais assassinos, enfatizou o ouvidor-geral Fermino Fechio.
Para a deputada Maria Lúcia Prandi, a Baixada Santista contribui para elevar as vertiginosas estatísticas de mortes violentas de jovens. Nossa região precisa ter uma atenção mais efetiva. Temos drogas, crime organizado, homicídios. Há todas as características de ações de grupos de extermínio. É preciso apurar, investigar, punir, enfatizou, ao mesmo tempo em que reivindicou políticas públicas de atenção aos jovens.