Diretor da Siemens diz que tem de chamar a polícia para cartel

20/08/2013

Corrupção tucana

O pagamento de propinas e formação de cartel na Siemens são dois crimes que se tornaram tão comuns no grupo alemão na última década

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o presidente mundial da Siemens, Peter Solmssen, falou pela primeira vez sobre a formação de cartel da qual a empresa participou em São Paulo. Ele afirma que “as pessoas que tentarem combinar preços vão saber que nós vamos chamar a polícia”.

A Siemens fez autodenúncia ao CADE, na qual diz ter combinado preços de metrô com 18 companhias. Uma série de negócios com o governo do PSDB, por meio do Metrô, são investigados sob suspeita que de houve conluio entre as empresas para elevarem o preço da concorrência.

O pagamento de propinas e formação de cartel na Siemens são dois crimes que se tornaram tão comuns no grupo alemão na última década.

Leia alguns trechos da entrevista publicada na edição desta terça-feira (20/8) do jornal Folha de S. Paulo.

Folha de S. Paulo – Em 2007, a Siemens recebeu multas que somam US$ 1,3 bilhão após um grande escândalo sobre o pagamento de propina. Por que nós temos que acreditar que o “compliance” não é só estratégia de marketing para limpar a imagem da empresa?

Solmssen – Não vejo as coisas assim. Enfrentamos o mesmo problema de integridade na década de 1950. Nós acreditamos que o negócio limpo é um bom negócio. Em 2007 , a nossa participação no mercado cresceu, os ganhos cresceram.

Folha de S. Paulo – O acordo no Brasil cita apenas negócios na área de transporte. O sr. tem certeza a Siemens não participa de cartel nos mercados de gás, eletricidade e equipamentos médicos?

Solmssen – Não sei a resposta. Só reportamos o que sabemos. Temos um programa de “compliance” muito bom, investigamos no mundo todo e foi isso o que descobrimos. Após 2007, ficou difícil violar nosso sistema.

Folha de S. Paulo – Investigadores do caso Siemens no Brasil afirmam que não existe cartel sem pagamento de propinas a políticos e funcionários públicos. Por que a Siemens não cita propina no acordo?

Solmssen – Só reportamos às autoridades brasileiras o que temos evidências das informações.

Folha de S. Paulo – Alguns especialistas dizem que a Siemens fez a autodenúncia para se livrar de futuras acusações criminais.

Solmssen – Eu ouço sobre isso em todo o mundo. Não é verdade. Nós abrimos para as autoridades uma série de informações muito importantes nos EUA, no Reino Unido e, inclusive, no seu país.

Folha de S. Paulo – Autodenúncia não é apenas para evitar o pior?

Solmssen – Autodenúncia é muito importante para “compliance”, inclusive do ponto de vista interno. Se você encontra alguma coisa errada internamente, pode mudar o comportamento dos empregados. Não se esqueça que companhias são feitas por pessoas, e de vez em quando elas são estúpidas, cometem equívocos. Pode ser doloroso, mas temos que chegar à verdade para resolver essas coisas.

Folha de S. Paulo – Eu vi uma conferência sua em outubro, quando o sr. disse para jovens líderes que é “muito fácil” combater a corrupção: é só dizer não. Se é muito fácil, por que a Siemens fracassou no Brasil, pelo menos?

Solmssen – Talvez estejamos confundindo duas coisas . Dizer não, dito de outra forma, é fazer a coisa certa. É uma questão psicológica. A empresa tem de ajudar a oferecer ajuda e treinamento para as pessoas fazerem a coisa certa. Se alguém tentar fazer a coisa errada, nós devemos ajudá-lo. Tentamos fazer isso com todos os nossos empregados: não aceite tentações, não aceite pressões, não seja fraco, só diga não.

Folha de S. Paulo – O sr. continua achando que combater a corrupção é uma questão simples?

Solmssen – A questão simples é aprofundar o efeito . Líderes de uma companhia são como os líderes de um país: devem lembrar as pessoas de coisas óbvias. As pessoas ficam muito nervosas nessas horas . Estamos muito calmos. Achávamos que tudo isso iria ocorrer. O processo normal logo voltará. Mas as pessoas, nossos funcionários e parceiros que tentarem combinar preços vão saber que nós vamos chamar a polícia.

*informações do jornal Folha de S. Paulo

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