Governo veta professoras com sobrepeso, mas não adota Programa de Controle de Obesidade

03/02/2011 16:13:00

Discriminação

 

 

As denúncias de discriminação e assédio moral atribuídas ao Departamento de Perícias Médicas do Estado não são recentes, mas ganharam as páginas dos principais jornais nos últimos dias devido ao veto a candidatas já aprovadas em recente concurso da Secretaria da Educação, mas consideradas obesas na última etapa para a efetivação no cargo.

Membro da Comissão da Educação da Assembleia, o deputado Simão Pedro revelou-se estarrecido com as denúncias. ‘‘As professoras consideradas obesas pelos critérios da Secretaria de Gestão já lecionam como temporárias, mas passaram no concurso público para serem efetivadas, submeteram-se a um período de três meses de curso e depois, lamentavelmente, foram barradas pela perícia médica“, disse o deputado petista durante a abertura dos trabalhos legislativos nesta quinta-feira (03/02).

Segundo Simão, durante a campanha eleitoral, o governador Geraldo Alckmin chegou a anunciar que trataria a obesidade como política pública. ‘‘Mas, infelizmente agora estamos vendo profissionais que iriam exercer cargos públicos serem maltratados pelo excesso de peso. São Paulo tem um Programa de Controle de Obesidade, criado por uma lei de minha autoria, que foi assinada pelo governador, mas não foi implementado”, lamentou o deputado Simão Pedro.

A Ordem dos Advogados do Brasil pediu explicações à Secretaria de Gestão sobre o caso, que poderá ser levado a entidades de Direitos Humanos e ao Ministério Público. A Comissão de Direitos Humanos da entidade disse que é ilegal excluir candidatos de processos seletivos devido à obesidade.

Os professores considerados inaptos podem pedir a reavaliação do laudo no próprio Departamento de Perícias Médicas. Além do excesso de peso, há denúncias de que professores com miopia também foram barrados pela perícia. A maioria já leciona e deverá continuar na condição de temporário, pelo menos até a reavaliação do laudo médico.

Gordinho assumido, o jornalista Ricardo Kotscho escreveu sobre o caso no Blog Balaio do Kotscho. Veja aqui o desabafo do jornalista, publicado ontem.

Por que gordo não pode dar aulas?

Bem no dia em que voltei a São Paulo, depois de uma breve temporada em Sorocaba para perder peso e criar vergonha, leio com espanto no jornal que cinco professoras foram reprovadas em exame médico para dar aulas em escolas estaduais porque estão gordas.

Sei que na nova língua do políticamente correto mudou o nome das coisas, e gordo agora virou obeso, como se isto mudasse algo, mas o fato é que, segundo a notícia da Folha, se eu tivesse que ganhar a vida como professor, também estaria vetado.

Só espero que também não proibam os carecas e os sexagenários de exercer o ofício de jornalista. Falando sério: quem foi que inventou este critério para o Departamento de Perícias Médicas de São Paulo poder vetar professores gordos já aprovados em todas as fases anteriores do concurso para o magistério estadual? Lembro-me que alguns dos meus melhores professores eram mais gordos do que eu.

“Ouvi do médico que eu estava deformando meu corpo e que teria problemas de saúde no futuro. Não tinha uma alteração nos 15 exames que fiz”, disse a professora Andréia Pereira à repórter Talita Bedinelli.

Outra professora, Fátima Fernandes, garante: “Nunca peguei licença por causa do peso, nunca tive problema de saúde”. Para a Secretaria de Gestão Pública, que é responsável pela perícia, “há casos em que a obesidade pode ser considerada doença, segundo os padrões da OMS (Organização Mundial de Saúde)”.

Se assim é, que providências foram tomadas pelo Estado para dar assistência médica às professoras que não poderão dar aulas porque a perícia as considerou “inaptas”?

Sem conseguir o emprego, como elas farão para pagar o tratamento? Não seria mais humano contratá-las, já que foram aprovadas no concurso, e o Estado precisa de professores, para em seguida encaminhá-las a um hospital público que trata de obesidade e assim possam cuidar da saúde?

Esta história me fez lembrar um caso parecido que aconteceu comigo quando era editor de um grande jornal paulistano. Queria contratar um repórter muito bom, tinha a verba, mas ele foi vetado no exame médico da empresa. Motivo: seus dentes encontravam-se em péssimo estado.

De fato, o médico tinha razão, mas argumentei com ele que o sujeito era ótimo profissional e só poderia cuidar dos dentes se fosse contratado, já que estava desempregado, sem grana. O médico acabou concordando e o tal repórter, com dentes bem cuidados, continua trabalhando até hoje nas principais redações do país.

Bem que o Departamento de Perícias Médicas de São Paulo poderia seguir este exemplo.

 

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