Por falta de investimentos
Por falta de investimentos, metrô 24 horas em São Paulo está longe de ser realidade
Projeto na Assembleia Legislativa prevê operação ininterrupta. Objetivo é criar empregos e fomentar a vida cultural e o comércio à noite
O Projeto de Lei (PL) n° 621, de 2011, do deputado estadual Luiz Claudio Marcolino que propõe que o metrô paulistano passe a funcionar 24 horas por dia, de domingo a domingo, ininterruptamente voltou ao centro das discussões dentro da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), depois que, na semana passada, as redes sociais repercutiram a criação de uma petição on-line reivindicando “que o governo coloque o metrô sempre em operação, como em Nova York”.
Até o final desta quinta-feira (28/2), a petição pela operação ininterrupta do metrô de São Paulo contava cerca de 82,7 mil assinaturas. O PL, de acordo com Marcolino, chegou a entrar na pauta de votação no fim do ano passado, mas acabou sendo retirado por pressão da liderança do governo na Assembleia Legislativa. A proposta determina que o metrô passará a funcionar 24 horas por dia, de domingo a domingo, ininterruptamente.
Segundo o parlamentar, a ideia do projeto surgiu de sua campanha em 2010, quando tomou contato direto com o problema de muitos trabalhadores, principalmente de call centers, que saem do trabalho à noite ou de madrugada e encontram dificuldades para voltar a suas casas. Mas não só. Há também um grande número de jovens que frequentam a vida noturna da cidade, diz Marcolino. O funcionamento do metrô durante a noite na cidade, diz ele, ficou ainda mais urgente após a nova Lei Seca, que entrou em vigor no início do ano.
Viabilidade
Na justificativa do projeto, Marcolino aponta outro fator mencionado pelos que defendem a operação comercial do metrô durante a madrugada: seria um criador de emprego e fomentador de cultura, na medida em que teatros, cinemas, restaurantes e o comércio noturno em geral teriam mais público e consumidores.
A principal questão, entretanto, é saber se há condições técnicas e operacionais para ser implantada a operação 24 horas. O secretário de Comunicação do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Ciro Moraes, que também é operador de trem da linha Norte-Sul, diz que a pouca oferta de linhas da maior cidade da América do Sul, decorrente dos investimentos insuficientes do governo de São Paulo, torna a operação ininterrupta impraticável, devido à própria negligência do governo do estado em investir na construção de mais linhas de metrô para suprir a carência de transporte.
O projeto de lei do deputado Marcolino seria muito bem-vindo, se houvesse condições. Gostaríamos que houvesse mais quilômetros de metrô, mais metroviários contratados para atender a população diuturnamente. Somos amplamente favoráveis ao atendimento à população, principalmente agora com a Lei Seca, que impede as pessoas de dirigirem à noite, diz o sindicalista. Mas, na atual conjuntura do metrô de São Paulo, é impossível. Com os parcos 74 quilômetros, incluindo a Linha 4 Amarela, privada, não é possível fazer a operação 24 horas como é feito em outras metrópoles do mundo, como Nova York, diz Moraes.
Segundo ele, a manutenção preventiva é feita da 1h da madrugada, quando a circulação de trens termina, até as 4 h. A operação recomeça às 4h40. Cada composição cheia transporta 2 mil pessoas. Qualquer trinca num trilho de um transporte de massa como o metrô poderia provocar um acidente de grandes proporções, uma tragédia, explica.
Para o autor do projeto, é possível pensar em tecnologias mais avançadas para fazer a manutenção. O que não pode é não fazer investimento, não se buscarem procurar novas tecnologias de manutenção e a população ser prejudicada, diz Marcolino.
Uma solução temporária, para o deputado petista, seriam os ônibus. Fizemos uma indicação na Assembleia Legislativa para que, até que a proposta seja aprovada, a EMTU garanta transporte 24 horas, com linhas específicas até que o metrô 24h seja implementado, defende.
Marcolino diz ainda que a falta de investimentos na expansão do metrô não se deve à falta de recursos. Ele diz que foram aprovados pelos deputados na Alesp pelo menos três projetos, enviados pelo Executivo, para autorização de empréstimos para o governo do estado investir na CPTM, no metrô e duplicação de estradas. O problema é que se aprova, mas depois o governo não vai buscar. O Plano Plurianual, por exemplo, tem 21 bilhões para serem usados. Em 2011, dos R$ 21 bilhões, ele usou apenas R$ 13 bilhões. Em 2012, deve gastar no máximo R$ 17 bi. Fora os empréstimos que autorizamos, o governo do estado não está conseguindo utilizar os recursos que tem para investimentos.
São Paulo x Nova York
Enquanto São Paulo tem 74,3 quilômetros de metrô e 68 estações, a gigantesca malha de Nova York tem 368 km de trilhos e 423 estações. Como eles têm muitos quilômetros de linhas, e muitas alternativas de origem e destino, têm condições de fazer uma manutenção preventiva fechando um ramal, e o usuário pode usar outras integrações, outras linhas, e chegarem no destino, diz Moraes.
Ele afirma que a categoria é contra a solução de os técnicos de manutenção atuarem numa via, enquanto, em outra, a intervalos maiores do que o da operação normal, circulassem alguns trens. Têm as condições de segurança. Somos contra trabalhadores atuarem com circulação de trem, mesmo que numa outra via. Pode acontecer algum acidente, explica.
Para o sindicalista, os investimentos são mal direcionados. O governo do estado está investindo em monotrilho. Mas quando forem entregues essas linhas, a demanda de usuários já vai estar muito superada. O monotrilho transporta só um quarto da capacidade do metrô, critica.
O metroviário estima que se, hipoteticamente, o metrô 24 horas viesse a funcionar hoje, considerando que a demanda da noite seria menor do que durante o dia, seriam necessários aproximadamente mais 50% de funcionários nas escalas-base. Hoje trabalham no metrô cerca de dez mil pessoas, segundo Moraes.
Procurada pela reportagem, a assessoria de Comunicação da Companhia do Metrô diz que a Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM) não descarta ampliar os horários de funcionamento, onde houver demanda, para atender os passageiros que utilizam transporte sobre trilhos, em complemento à rede municipal, que cumpre papel fundamental no transporte coletivo da cidade, alcançando bairros e regiões mais periféricas, onde a rede metroferroviária ainda não atende.
fonte: Rede Brasil Atual