Governo blindado
Na noite de quinta-feira, uma funcionária que trabalha fazendo recarga de Bilhete Único foi estrupada no seu posto de trabalho, na Estação República, uma das mais movimentadas de São Paulo.
A jovem foi surpreendida quando se preparava para encerrar o expediente. Antes de sair, a operadora de recarga tentou ver pelo olho mágico da porta o movimento fora do quiosque, contundo a ferramenta estava quebrada. Na hora que abriu a porta, a jovem foi surpreendida por dois indivíduos que a amarraram e estupraram.
Segundo relatos de funcionários à reportagem do Estadão, o quiosque está instalado em ponto perigoso e não é bem servido por câmeras de vigilância.
A jovem de 18 anos é contrata da empresa Prodata Mobility, uma das prestadoras do serviço de bilhetagem do Metrô.
O crime só veio a público nesta segunda-feira, após denúncias de empregados do Metrô, pois a Companhia tentou abafar o caso.
O Sindicato dos Metroviários divulgou nota em solidariedade à funcionária. No documento, a entidade exige que o governo do Estado de São Paulo, a empresa na qual ela trabalha e o Metrô assumam as suas responsabilidades e deem todo apoio necessário à funcionária.
Na nota, o Sindicato ainda denuncia a falta de segurança. “Faltam funcionários em todos os postos, principalmente na segurança à noite”, diz.
Confira a íntegra da nota do Sindicato:
NOTA DO SINDICATO SOBRE ESTUPRO OCORRIDO NA ESTAÇÃO REPÚBLICA
Na última quinta-feira, 2/4, às 23:27, foi notificada uma denúncia de estupro na estação República do Metrô de São Paulo, numa bilheteria terceirizada do acesso Arouche dessa estação.
É um fato gravíssimo, de extrema violência e inadmissível em qualquer lugar e em se tratando de ter acontecido no local de trabalho com uma funcionária que presta serviços ao Metrô de São Paulo revela uma situação inaceitável de falta de segurança.
A Secretaria de Mulheres do Sindicato dos Metroviários, a diretoria do Sindicato, os funcionários e funcionárias do Metrô se sentem violentados, indignados e se solidarizam com a mulher trabalhadora que sofreu as consequências da violência machista e da insegurança. Queremos dar todo apoio e solidariedade a ela nesse momento tão difícil.
Mas nesse caso não podemos deixar de apontar as responsabilidades pelas condições de trabalho que estamos expostos. Exigimos que o governo do Estado de São Paulo, a empresa na qual ela trabalha e o Metrô assumam as suas responsabilidades e deem todo apoio necessário a funcionária. Que forneçam a ela total apoio em suas necessidades, apoio psicológico, de saúde, jurídico etc. E que fechem imediatamente essa bilheteria que está em lugar inseguro e as trabalhadoras ficam sozinhas. Exigimos as filmagens e a total transparência na investigação e punição dos agressores.
O governo de Estado de São Paulo faz muita propaganda sobre a segurança no Metrô, afirmando inclusive que tem seguranças treinados para coibir o assédio e outras agressões, pois nós dizemos que faltam funcionários em todos os postos, principalmente na segurança à noite, onde o quadro é bastante reduzido, deixando usuários e funcionários expostos a fatos revoltantes como esse.
A terceirização e a precarização têm submetido trabalhadores e trabalhadoras a péssimas condições de trabalho, sem várias garantias trabalhistas, com baixos salários, precárias cabines de recarga sem nenhum conforto, muitas vezes sem ar condicionado, sem rendição para poder ir ao banheiro e sem segurança. O olho de segurança na cabine onde ocorreu o estupro, por exemplo, não funciona. Temos lutado contra a terceirização por causa desses fatores e inclusive estamos em campanha contra a votação do Projeto de Lei 4330 na Câmara Federal, pois ele aprofunda o projeto de terceirização, tirando ainda mais direitos trabalhistas.
Funcionários e funcionárias que trabalham dentro da área do Metrô, tanto do Metrô como terceirizados, estão sofrendo com constantes agressões que cada vez são mais graves. São temas recorrentes em nossas CIPAS, mas o Metrô não tem essa mesma compreensão. Para se tomar alguma medida é muito difícil.
Essa é a face do descaso do governo com as condições de transporte da população de São Paulo que sofre com a superlotação e a precariedade do transporte público e o descaso com as condições de trabalho de seus funcionários que sofrem junto, com as precárias condições de trabalho.
A população precisa de mais metrô, de um transporte público, estatal e de qualidade, onde funcionários e usuários possam decidir como gerir nossos recursos. Precisamos de mais funcionários, especialmente de mais mulheres na segurança para atender as mulheres vítimas de violência, mais funcionários à noite, de uma delegacia das mulheres dentro do metrô, uma ampla campanha contra o machismo e a violência contra as mulheres.
Reafirmamos nossa solidariedade e apoio à funcionária.
Fonte: Linha Direta