Crise da água
Projeção mais otimista da Sabesp sobre o impacto da sobretaxa prevê redução de gasto 65% menor do que o déficit atual do manancial
A economia de água esperada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) com a multa que entrou em vigor não deve ser suficiente para estancar a queda do Sistema Cantareira, que ocorre há 20 meses consecutivos. A projeção mais otimista da Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) sobre o impacto da sobretaxa prevê uma redução de gasto 65% menor do que o déficit atual do manancial.
Nesta quinta-feira (8/1), o Cantareira manteve-se estável, com 6,8% da capacidade. Segundo a Sabesp, se todos os 446,6 mil clientes que consumiram água acima da média no mês de novembro e são alvo da multa aderirem ao programa de bônus e gastarem neste mês 20% menos água do que a média anterior à crise hídrica, a economia seria de 2,5 mil litros por segundo em toda a Região Metropolitana, ou 6,5 bilhões de litros mensais. Essa foi a meta divulgada por Alckmin no dia do anúncio definitivo da multa, em dezembro.
Na primeira semana de janeiro, contudo, o Sistema Cantareira já registra um déficit de água de 7,3 mil litros por segundo, ou 19 bilhões de litros mensais. Têm entrado nos reservatórios apenas 10,2 mil litros por segundo, 28% menos do que em janeiro de 2014, que já havia sido o mais seco em 84 anos, e 83% abaixo da média histórica. Enquanto isso, 17,5 mil litros por segundo são retirados das represas para abastecer 6,2 milhões na Grande São Paulo e 5,5 milhões na região de Campinas.
Sobretaxa
Desde esta quinta-feira (8/1), os consumidores da Sabesp na Região Metropolitana que consumirem até 20% mais água do que a média pré-crise (fevereiro de 2013 a janeiro de 2014) serão sobretaxados em 40% sobre a tarifa de água, equivalente a 50% da conta. Quem exceder esse limite de 20% receberá uma sobretaxa de 100%. Segundo a Sabesp, se os 446 mil clientes tachados de gastões por Alckmin voltassem a consumir água dentro da média de 2013 apenas para não levar multa, a economia obtida seria de 1,5 mil litros por segundo, ou 4 bilhões de litros mensais.
A sobre taxa, porém, vale para todas as cidades da Grande São Paulo, incluindo a capital, que são abastecidas por outros Sistemas além do Cantareira, como Alto Tietê e Guarapiranga. Nesse cenário, será preciso chover 56% mais nos reservatórios para o sistema parar de cair neste mês. Se a economia esperada for atingida, você consegue adiar o esvaziamento total dos reservatórios, mas não estanca a queda do sistema. É uma medida válida, mas que deveria ter sido adotada antes. Agora estamos contando gotas, afirma o professor de Hidrologia da Unicamp, Antonio Carlos Zuffo.
Segundo o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga, a chuva e a redução do consumo pela população são a única solução a curto prazo para evitar o colapso do Cantareira.
O governo, porém, não tem controle sobre nenhuma das duas ações. Há comerciantes, por exemplo, que preferem pagar a multa a reduzir o consumo e perder receita. É o caso de Carla Knize, de 48 anos, dona de um pet shop em Veleiros, na zona sul de São Paulo. Ela disse que se economizar água para não ser penalizada terá prejuízo de 3 mil. Vou ter de lavar cem cachorros a menos por mês. Entre a multa e o prejuízo, prefiro ser multada, disse. Em dezembro, o comércio dela consumiu 42,8% acima da média. Neste caso, a multa seria de R$ 99,48.
Segundo a Sabesp, a multa não é a única medida para estancar a queda do Cantareira e a meta de economia não é um teto. A companhia cita a redução de perdas na distribuição e o aumento do volume de chuvas em outros sistemas que podem socorrer o manancial.
fonte: jornal O Estado de S. Paulo
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