Preconceito

Formada em Ciências Sociais pela Faculdade Faceres de São José do Rio Preto, especialista em Sociologia Política pela mesma instituição e em Ensino de Sociologia pela USP. Esse currículo não foi o suficiente para que Bruna Giorjiani de Arruda ingressasse na rede estadual de ensino. Para a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, ela deveria ser mais magra.
Em novembro do ano passado, a socióloga foi aprovada no concurso feito para o cargo. Entretanto, a avaliação do Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME) decidiu que Bruna tinha obesidade mórbida e, portanto, não estaria apta a exercer a função. A professora só descobriu o motivo da reprova depois de ir à capital para pedir seu prontuário. Antes, ela ficou sabendo que não seria efetivada por meio do Diário Oficial do Estado.
No edital do concurso, não consta nenhuma especificação sobre o peso ideal para o cargo de professor. Bruna já tinha ouvido falar sobre casos parecidos, mas imaginou que a Secretaria de Educação tivesse corrigido o erro. No concurso passado houve alguns casos como o meu, e sei que todas as meninas ganharam a causa. Esse critério, até onde tenho visto e procurado saber, é inconstitucional, declarou ela.
Apesar de ter o Índice de Massa Corporal (IMC) indicando obesidade mórbida, de acordo com os termos da Organização Mundial de Saúde (OMS), Bruna é saudável. Não possuo nenhum problema ligado à obesidade. E mais, faço acompanhamento médico todos os anos para saber de minha saúde, garantiu ela. Para ser admitida, a socióloga ainda levou o resultado de outros 12 exames, como hemograma, eletrocardiograma e laringoscopia. Todos foram aprovados, segundo o laudo do DPME.
Gordofobia
Bruna Giorjiani não tem dúvidas de que a reprovação foi uma atitude gordofóbica. O discurso médico, ao longo do século passado, legitimou uma série de preconceitos que hoje já caíram por terra, explicou ela. Um dos exemplos citados era a teoria eugênica de que algumas raças eram superiores às outras. Tal discurso foi baseado com comprovação científica e legitimou a discriminação racial.
Ainda que saibamos que a gordura está ligada a determinadas doenças, tais doenças não são exclusivas de gordos, destacou a socióloga. Afinal, ainda que uma pessoa tenha dificuldades para engordar, sua saúde pode ficar comprometida caso a alimentação não seja adequada.
Bruna se considera adequada para a vaga e, por isso, vai recorrer à decisão. Ela já é professora temporária na cidade de Nova Aliança e leciona em duas instituições do ensino superior. Na atual fase de minha carreira, se fosse apenas por dinheiro, não precisaria do Estado, mas sinto a educação pública como mais que um emprego, uma missão, contou.
Em um primeiro momento, a socióloga vai recorrer a duas instâncias administrativas. A primeira é um novo pedido de perícia pelo DPME, que já foi encaminhado. Se for reprovada novamente, ela deverá recorrer ao secretário de Gestão Pública do Estado de São Paulo. Em último caso, ela pode entrar com um processo jurídico por meio de um mandato de segurança.
Solidariedade
A Atem (Associação dos Trabalhadores em Educação Municipal) publicou uma nota em solidariedade à professora Bruna. Confira na íntegra:
A Atem vem a público se solidarizar com a professora Bruna Arruda pela truculência sofrida pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, ao reprová-la em concurso público sob alegação de obesidade mórbida.
Bruna é professora dedicada e competente e com seus 28 anos de idade goza de plena saúde física, conforme comprovou apresentando todos exames médicos exigidos pelo Estado.
Entendemos que isso caracteriza preconceito e repudiamos veementemente os métodos que estão sendo adotados pelo Estado de São Paulo na seleção de professores.
Em se tratando de uma mulher guerreira, que faz frente às lutas contra opressões, nos colocamos ao seu lado para os enfrentamentos necessários.
fonte: site Spressosp – por Isadora Otoni