Peritas revelam falhas da Unicamp em análise das ossadas de Perus

20/04/2013

Comissão da Verdade

A Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, coordenada pelo deputado Adriano Diogo (PT), recebeu nesta sexta-feira, 19/4, relatório feito pela antropóloga forense Patrícia Bernardi com análise de algumas das ossadas retiradas do cemitério de Perus em 1990. A pesquisa buscava os restos de Hiroaki Torigoe, militante do Movimento de Libertação Popular (Molipo), cuja família disponibilizou material genético para exame.

Patrícia Bernardi, cofundadora da Equipe de Antropologia Forense, com sede em Buenos Aires, Argentina, foi contratada pela Associação Brasileira de Anistiados Políticos (Abap) para analisar 23 ossadas, visando encontrar Torigoe. Para isso, recebeu sacos de 21 ossadas, que estavam no columbário do Cemitério do Araçá aguardando análise junto com as demais.

Os restos, que de acordo com os laudos prévios da Unicamp, feitos na década de 1990, teriam possibilidade de conter os restos de Torigoe, foram levados para o IML para estudo. Esses materiais estavam em más condições, sujos e com fungos, pois houve infiltração de água na parte superior do ossuário e, abertos, revelaram conter 22 ossadas. Logo quatro foram descartadas, por serem de mulheres, assim como as de 14 de homens com mais de 35 anos, pois o militante tinha 27 anos quando desapareceu. O laudo apontou que os ossos de Torigoe não estavam lá.

Sobre as fichas da análise feita pela Unicamp, a perita argentina afirmou tinham muitas medidas mas poucas conclusões, e foram consideradas com problemas de metodologia, ou seja, não sendo confiáveis. Outras falhas foram detectadas como estudo mais acurado apenas dos crânios, descartando o resto dos esqueletos, que podem dar pistas importantes para identificação, como marcas de tiros e cicatrizes de fraturas.

Antropólogos forenses

Maria Amélia Teles considerou os resultados do relatório frustrantes e lamentou que o Brasil tenha apenas oito antropólogos forenses. Afirmou que, se houver pessoa interessadas, a equipe argentina se dispõe a dar treinamento, como já fez em diversos países da América Latina, África e Ásia.

Alexandrina Cristensen, presidente da Abap, que tem sede em Brasília, disse que sua entidade “é privada e sem fins lucrativos, e que luta para cumprir um dever que é do Estado, mas não tem fôlego para manter o trabalho em Perus”. Ainda em sua opinião, o IML deveria ser separado da Secretaria de Segurança Pública, para que não haja influência policial nos trabalhos.

Maria Amélia Teles falou ainda sobre a abertura da vala de Perus, onde se estima que 15 desaparecidos políticos tenham sido enterrados.

Descoberta das ossadas

Em 4/9/1990, a então prefeita Luiza Erundina determinou a abertura de uma vala comum e clandestina no cemitério Dom Bosco, em Perus, bairro da zona noroeste da capital. Nesta vala, estavam 1.049 ossadas, acondicionadas em sacos plásticos e sem qualquer identificação. Erundina então determinou a apuração dos fatos, e fez convênio com a Unicamp para análise e identificação dos ossos.

Dessas ossadas, muitas eram de indigentes, e cerca de 450 eram de crianças menores de 10 anos, que teriam sido vítimas da epidemia de meningite nos anos 1970, cuja existência os militares ocultaram. Essa análise resultou na identificação dos restos mortais de sete integrantes de organizações de resistência à ditadura, sendo que três deles estavam na vala comum e os demais em sepulturas individuais com nomes falsos. Na ocasião, a Câmara Municipal de São Paulo instaurou a CPI Perus/Desaparecidos.

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