Paralisação
O Governo do Estado de São Paulo está faturando mais com impostos e taxas e gastando menos com a folha de pagamento do funcionalismo público. Com essa denúncia, o líder da Bancada do PT na Assembléia Legislativa, Roberto Felício, apontou a incoerência do argumento oficial para recusar negociações com os policiais civis, em greve há 15 dias.
Segundo levantamento da bancada petista, no momento, o governo utiliza apenas 39% das receitas líquidas com o pagamento de servidores. Sendo assim, seria possível conceder reajuste linear médio de 25% para todos os servidores públicos do Estado.
Em comemoração ao Dia da Polícia Civil, que está completando 103 anos de atuação, entidades representativas dos policiais estiveram na Assembléia Legislativa nesta terça-feira, 30 de setembro. Manifestantes das Associações dos escrivães, delegados, investigadores e papilocopistas ocuparam o plenário do Auditório Juscelino Kubitscheck na tentativa de pressionar os deputados a defender a negociação. No entanto, apesar dos discursos favoráveis no Plenário, apenas 23 deputados da oposição declaram-se favoráveis ao projeto de reajuste para o setor. Nós temos a obrigação enquanto representantes do povo de defender a negociação. O problema é na hora do voto. Temos apenas 23 deputados da bancada de oposição que defendem o reajuste para os policiais, alertou Felício, conclamando as lideranças a interferir em defesa do reajuste.
Atentos à manobra da bancada governistas, os manifestantes criticaram e vaiaram fortemente deputados como José Bittencourt (PDT) e Mauro Bragato (PSDB). PSDB: pior salário do Brasil, Fora Marzagão, gritavam os manifestantes vestidos, em sua maioria, com camisetas ilustradas com a frase José Serra: Exterminador da polícia de São Paulo.
CPI da Segurança
A percepção de insegurança dos paulistanos também foi alvo de duras críticas na Assembléia. Houve pedido e reivindicações favoráveis à instalação de CPI para investigar a pasta, que tem sido constantemente denunciada em inúmeras reportagens, que apontam despejo de bases policiais por falta de pagamento de aluguel e premiação de acusados de tortura, entre outros desmandos.
Delegado do Decap há 15 anos, Alfredo Pinto de Souza conta que o salário inicial hoje em sua carreira é de R$ 3,700,00, enquanto
Diretor do Sindicato dos Policiais Civis de Presidente Prudente, Carlos Rodrigues Ferreira conta que chega a trabalhar 54 horas semanais, revezando-se em plantões durante períodos de falta de funcionários. O salário inicial da categoria na cidade é de R$ 1.700,00, inferior ainda em relação aos policiais civis da capital. O deputado Roberto Felício foi, inclusive, procurado por policiais de Piracicaba.
Em Barretos, a Associação Comercial de Barretos decidiu fechar as portas dos estabelecimentos, em apoio à manifestação da categoria.
Desrespeito à data-base
O desrespeito à lei da data-base, estabelecida para o dia 1º de março em projeto de Felício, não cumprida pelo Governo do Estado desde 2007, foi outro ponto de indignação entre policiais e parlamentares da oposição presentes à Assembléia. Quando as categorias cansam-se de buscar negociação e iniciam uma greve, o governador anuncia que não conversa com grevistas. Por isso, as ameaças não assustam mais os servidores, que consideram que o governo ultrapassou o limite da prudência ao não respeitar sequer a data base para reajuste destes profissionais, esclarece Felício.
Os policias endossaram a denúncia, alertando que o protesto também serviu para contrapor as acusações do governador José Serra e da Secretaria de Segurança Pública de que a greve teria motivação política, devido à participação de lideranças ligadas ao movimento sindical.
Depois das manifestações em plenário, os policiais realizaram um apitaço nas galerias da Assembléia e em frente ao prédio, seguindo depois em passeata até a sede do Detran, convocando os agentes civis do Departamento a participarem da mobilização.
Os policiais civis do Estado de São Paulo reivindicam aumento salarial de 15% ao ano e reajustes de 12% nos dois anos seguintes.