Próximo verão

A pouco mais de três meses para a época das chuvas, a limpeza dos córregos e obras de piscinões, drenagem e canalização deveriam estar a todo vapor na Região Metropolitana de São Paulo, no entanto, governo do Estado e prefeitura local não cumprem o planejamento das ações antienchentes. Com isso, os cidadãos devem sofrer novamente com os transtornos provocados pelas cheias. Lembrando que no último verão, só na Capital 18 pessoas morreram em decorrência das chuvas e deslizamentos de terra.
As principais inundações na Capital e entorno são por conta do assoreamento do rios Tietê, Tamanduateí e Aricanduva. A capacidade de vazão do Tietê, por exemplo, é de 1.000 m³ por segundo, mas devido a sujeira esta vazão baixa para entre 700 e 800 m³.
O governo do Estado iniciou com muito atraso a retirada de resíduos do fundo do rio Tietê. O compromisso de elevar os investimentos para o desassoreamento do rio foi firmado no início de fevereiro, mas o trabalho só começou em junho. Porém, para funcionar, o trabalho deveria englobar os afluentes do Tietê e terminar até novembro. O que dificilmente acontecerá por causo do atraso.
Corte nas verbas
Recursos previstos no Orçamento do Estado não foram aplicados. As obras nas calhas do Rio Tietê perderam R$ 105 milhões dos recursos, entre os anos de 2007 e 2007. Já para a ação de limpeza e conservação de córregos, o governo Serra, em 2009, não cumpriu 65,73% do previsto e para manutenção, operação e implantação de estruturas hidráulicas faltaram 33,33%.
Serra também prometeu a construção de 134 reservatórios em todo o Estado, mas só entregou 43 e ainda remeteu para as prefeituras a obrigação de efetuar e limpeza e a manutenção. O Orçamento de 2009 previa recursos para obras de seis piscinões, no entanto, apenas três foram concluídos. Entre 2007 e 2009, os recursos para piscinões tiveram um corte de R$ 5,8 milhões.
No caso da região do ABC, por exemplo, a solução para as enchentes depende da drenagem de cerca de 3,5 milhões de m³ de água durante o pico de chuvas. O Plano de Macrodrenagem da Bacia do Tamanduateí, já em 1998 previa a instalação de 46 reservatórios. No entanto, a região tem apenas 17 piscinões em funcionamento.
Orçamento 2010
No Orçamento do Estado para 2010, também a limpeza de córregos perdeu aproximadamente 65% das verbas, em comparação a 2009. O corte de verbas atinge ainda a Defesa Civil, que tem entre suas atividades socorrer as vítimas de enchentes.
A ação para serviços e obras complementares da Bacia do Alto Tietê, principal recurso para desassoreamento do rio e seus afluentes, está com uma verba 25% menor do que no ano passado. São R$ 47 milhões a menos.
Prefeitura não faz sua parte
Córregos da Capital que tiveram problemas de enchentes e até mortes entre os meses de dezembro, janeiro e fevereiro últimos encontram-se sujos, como lixo e entulho acumulados. São os casos dos córregos Pirajuçara (Butantã, Zona Oeste); Cordeiro (Americanópolis, Zona Sul); Ribeirão dos Meninos (divisa com São Caetano do Sul); Zavuvus (Vila Joaniza, Zona Sul); Água Preta (Pompeia, Zona Oeste); e Lageado (Itaim Paulista , Zona Leste).
Na média, os córregos de São Paulo foram limpos menos de duas vezes entre janeiro e julho deste ano. Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, o Programa de Melhoria da Drenagem Urbana, que inclui a limpeza dos córregos, só finalizou 39% dos serviços planejados para 2010. Dos 2.850 quilômetros de galerias, só 382 foram inspecionados ou limpos. Também só foram utilizados R$ 140,9 milhões dos R$ 356,4 milhões previstos no Orçamento municipal.
O município desistiu também de construir o piscinão da Avenida Francisco Matarazzo (Pompeia, Zona Oeste) este ano. Com isso, as inundações no próximo verão devem ser inevitáveis na região.
Falhas nos piscinões prolifera dengue
Como se não bastasse a falta de piscinões, falhas na construção e limpeza geram problemas. Ondulações no concreto acumulam água, rica em material orgânico, que se transforma em ambiente ideal para a procriação de pernilongos, principalmente os da dengue.
O professor Paulo Roberto Urbinati, mestre pelo Departamento de Saúde Ambiental e doutor pelo Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, aponta, ainda, outro agravante. Quando é feita a manutenção com máquinas pesadas, ela danifica o piso de concreto e forma uma depressão. A larva fica parada naquele local”, explicou o professor. Em piscinões não concretados, as marcas de máquinas e a vegetação abundante ajudam na proliferação dos mosquitos.
No piscinão Inhumas, na Zona Leste, por exemplo, apesar do tempo seco e estar limpo, é possível encontrar poças de água na parte mais baixa do reservatório. Também é possível perceber que as valetas da drenagem do terreno acumulam água.
Seguro fica mais caro
Como se não bastassem todos os problemas causados pelas cheias, os moradores da Capital também têm que desembolsar mais dinheiro para pagar o seguro dos automóveis. Um dos fatores desse aumento são os danos causados pelas enchentes. O seguro na Capital aumentou 32,66% nos últimos 12 meses. Esse aumento é maior que a média registrada no país (19,75%) e quase oito vezes superior à inflação geral medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC).
*com informações do PTAlesp, Jornal da Tarde e G1.