Vida de calouro
Os deputados Carlinhos de Almeida, Maria Lúcia Prandi, Roberto Felício e Simão Pedro acabam de apresentar projeto de lei para a realização de uma campanha permanente nas instituições de ensino superior de recepção aos calouros, os alunos ingressantes. O objetivo do projeto é transformar o trote em um momento de cidadania.
Uma das mais polêmicas tradições universitárias, o trote é uma brincadeira que, na maioria das vezes, expõe os alunos recém-chegados à humilhação pública e, em alguns casos, termina em lesões corporais graves, internações hospitalares por excesso de ingestão de álcool e até em morte.
Nos primeiros dias do ano letivo de 2009, dois casos chamaram a atenção no estado de São Paulo: um calouro de veterinária teve coma alcoólico em Leme e duas calouras – uma delas grávida – foram internadas com queimaduras provocadas por uma substância utilizada durante o trote em Santa Fé do Sul.
A tradição do trote começou na Idade Média, quando os alunos novatos ficavam nos vestíbulos das salas de aula – daí a denominação vestibulando – e tinham seus cabelos cortados como medida profilática. O hábito segue até os dias atuais, agora com universitários maltrapilhos e pintados, pedindo esmola para a cerveja nos faróis.
No Estado de São Paulo, esta tradição já e legalmente proibido. A Lei 10.454 de 1999 dispõe sobre a proibição de trote que possa colocar em risco a saúde e a integridade física dos calouros das escolas superiores e a Lei nº 11.365 de 2003 institui a Campanha para o Trote Solidário.
Apesar das restrições legais, os trotes violentos continuam ocorrendo. Por isso, devemos considerar outras opções que levem em conta, principalmente, a conscientização dos alunos e não sua proibição pura e simples, justificam os autores do projeto, que tem caráter preventivo e educativo.
A proposta é que a campanha de recepção aos calouros tenha atividades artísticas e culturais, palestras ministradas por especialistas das áreas jurídica, de saúde, de segurança pública e educacional, debates e outras ações, cuja finalidade seja a conscientização dos alunos veteranos e a modificação de seu comportamento com relação à chegada dos novos estudantes.
Não é o caso de proibir o trote, mas de trabalhar no sentido de coibir os excessos, de evitar a violência física, sexual e psicológica. O modelo existente, imposto pela falta de criatividade, pode ser modificado através de debates sobre a forma como são realizadas as atividades de integração e a busca de novas e originais alternativas para a recepção dos novéis estudantes universitários, diz o texto do projeto de autoria dos deputados petistas.