Sabesp distribui até 60% dos lucros aos acionistas durante governo Alckmin

01/10/2014

Privatização

Em 1994, com a justificativa de que assim conseguiria mais dinheiro para investir em abastecimento de água e tratamento de esgoto, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) decidiu se tornar uma empresa de capital misto. Duas décadas depois, 50,3% de seu controle acionário se encontram nas mãos do Estado, enquanto 47,7% das ações são de propriedade de investidores brasileiros (25,5%) e estrangeiros (24,2%).

Embora o estatuto social da Sabesp determine que os acionistas podem receber 25% do lucro líquido anual da empresa (relação que o mercado chama de payout), a concessionária chegou a bater recordes em distribuição de dividendos durante o governo Geraldo Alckmin (PSDB). Em 2003, por exemplo, ano seguinte à vitória do tucano nas urnas, 60,5% do lucro líquido da Sabesp foram parar no caixa de acionistas. Na verdade, desde a sua entrada na bolsa de valores, em 2002, a Sabesp nunca registrou payout inferior a 26,1%.

Estimativas feitas com base nos dados divulgados em março de 2014 pela Diretoria Econômico-Financeira e de Relações com os Investidores apontam que, entre 2003 e 2013, cerca de um terço do lucro líquido total da Sabesp foram repassados aos acionistas. O montante é da ordem de R$ 4,3 bilhões, o dobro do que a Sabesp investe anualmente em saneamento básico.

Negócio rentável

No meio financeiro, comprar ações da Sabesp virou um negócio rentável. Desde que se lançou no mercado de capital, a companhia colocou papéis à venda em duas ocasiões. A primeira em 2002, com prospecto inicial totalizando 3,364 bilhões de ações ordinárias na oferta brasileira, e 1,252 bilhão no exterior, na forma de ADSs (American Depositary Shares).

Naquele ano, cada lote de mil ações ordinárias saiu por R$ 110 aos investidores institucionais e, no caso de desconto da oferta de varejo, R$ 104,50. O preço das ADSs ficou em US$ 11,22 cada – equivalente, na época, a R$ 27,50. A venda dessas ações no mercado rendeu R$ 506,9 milhões. Segundo o prospecto da oferta inicial, os recursos foram encaminhados em sua totalidade aos cofres do governo do Estado.

Em 2004, a Sabesp retornou ao mercado com oferta de 5,273 bilhões de ações ordinárias, equivalente a 18,51% do capital social da empresa, por meio de uma distribuição pública secundária realizada simultaneamente no Brasil e no exterior. Dessa vez, 3,841 milhões de ADSs foram para o exterior. O lote de mil ações ordinárias saiu por R$ 113,47.

A arrecadação naquele ano atingiu R$ 598,2 milhões. O governo do Estado e a Companhia Paulista de Parcerias (CPP) – uma sociedade de capital fechado controlada majoritariamente pelo Estado que tem por objetivo “viabilizar a implementação do Programa de Parcerias Público-Privadas (PPP)” – ficaram com os recursos.

No total, pelo menos R$ 1,11 bilhão foi parar no caixa do governo estadual a partir da venda de ações da Sabesp em 2002 e 2004. A reportagem do GGN questionou a Secretaria de Fazenda do Estado quanto aos investimentos que foram feitos com esses recursos. A pasta remeteu as perguntas à Sabesp que, até o fechamento dessa matéria, não se manifestou.

O gráfico abaixo mostra o desempenho das ações da Sabesp no mercado desde a entrada na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). Os picos registrados aconteceram em anos em que o lucro líquido da companhia de saneamento foi bilionário: R$ 1,055 bilhão em 2007, seguido de R$ 1,911 bilhão (2012) e R$ 1,923 bilhão (2013). O crescimento do lucro líquido puxa o aumento dos dividendos, o que torna as ações da Sabesp mais atrativas. Mesmo em 2008, quando a empresa teve lucro líquido de R$ 862,9 milhões, o payout foi de 34,3%.

A evolução das ações da Sabesp:

Dividendos x investimentos

Se comparado ao total de investimentos feitos pela Sabesp nos últimos 10 anos em saneamento básico (aproximadamente R$ 17,3 bilhões), os lucros e dividendos da companhia de capital misto não parecem tão exagerados, segundo avalia Alexandre Montes, analista de investimentos ligado à Sabesp. De acordo com ele, “em 2012, o negócio da Sabesp gerou um caixa de R$ 4,3 bilhões apenas com a venda de serviços de água e tratamento de esgoto. Desse montante, ela investiu na aquisição de intangíveis cerca de R$ 2,8 bilhões”, afirmou.

“Já em 2013, dos R$ 4,5 bilhões gerados, R$ 2,3 bilhões foram investidos. Do ponto de vista analítico-financeiro, a distribuição de rentabilidade para os acionistas está dentro dos padrões. Foram R$ 499 milhões em 2013 e R$ 579 milhões em 2012”, apontou o associado da Lopes Filho Consultores de Investimentos.

Atualmente, cerca de 28 milhões de pessoas no Estado são abrangidas pelos serviços de abastecimento de água da Sabesp. Aproximadamente 73% dos clientes são moradores da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), cinturão abastecido pelo Cantareira, sistema protagonista de uma crise iminente de fornecimento de água, já que opera, desde o início de maio, com menos de 11% de sua capacidade.

O governador e a Sabesp sustentam que o problema de abastecimento na RMSP acontece principalmente por falta de chuva. Na tentativa de evitar uma crise no segundo semestre, Alckmin anunciou algumas medidas emergenciais. Entre elas, a aplicação de multa em quem aumentar o consumo de água (ainda em análise pelos órgãos competentes), o uso das águas das bacias do Guarapiranga, Alto Tietê e, agora, Billings, para suprir a demanda paulista, além de uma obra de R$ 80 milhões para captar o volume morto do Cantareira.

A conta que não fecha

Ao longo de 10 anos da abertura de mercado e negociação de papéis na bolsa de valores americana, a Sabesp valorizou 601%. Na BM&FBovespa, a valorização foi de 427% no mesmo período, 2002 a 2012. Ou seja: em uma década no chamado “mercado futuro”, o valor da companhia saltou de R$ 6 bilhões para R$ 17,1 bilhões.

Os investimentos em saneamento básico, por sua vez, subiram de R$ 594 milhões em 2003 para R$ 2,7 bilhões em 2013. Nos últimos cinco anos, a companhia hoje presidida por Dilma Pena investiu R$ 11,9 bilhões em distribuição de água e tratamento de esgoto, e pretende investir mais R$ 12,8 bilhões entre 2014 e 2018.

fonte: http://jornalggn.com.br

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