Sebastião Misiara é visto como “sócio” da COAF por CPI da Máfia da Merenda

26/10/2016

CPI da Máfia da Merenda

Crédito: Tácito Chimato

15ª renião da CPI da Máfia da Merenda – Misiara foi fiador e emprestou dinheiro para COAF

Tio de funcionário da cooperativa, Misiara foi fiador de aluguel de sala de reuniões da COAF e ainda emprestou dinheiro para empresa

Sebastião Misiara, presidente da UVESP (União dos Vereadores do Estado de São Paulo), não convenceu os deputados da Bancada petista com seu depoimento na CPI da Máfia da Merenda. Ele foi ouvido na manhã de hoje (26/10), na 15ª reunião da CPI, que aconteceu na Assembleia Legislativa. O depoente veio à CPI prestar esclarecimentos sobretudo a respeito de empréstimo que fez à COAF (Cooperativa Orgânica de Agricultura Familiar), empresa que desviou verba de merenda para pagamento de propinas, e sobre sala alugada que servia para reuniões de membros da cooperativa, local do qual foi fiador.

Por estes motivos, os deputados da Bancada observaram que o depoente cumpria papel de “sócio” da empresa.
“Como é que o senhor entra num enrosco desse? É fiador de um imóvel da COAF, empresta R$130 mil a pedido do sobrinho, sem nenhum avalista, porque a COAF está passando por um período de dificuldade financeira, uma empresa que não se sabe se vai dar certo ou não (…) Sem querer fazer ilação, senhor Sebastião, mas parece que o senhor ficou sócio da COAF”, arguiu o deputado Teonílio Barba, em concordância com os demais deputados da Bancada presentes.

Misiara é tio de Emerson Girardi, vendedor da COAF amplamente citado na Operação Alba Branca, que investiga fraudes no fornecimento de merenda e outros desvios da cooperativa. Questionado pelos deputados da Bancada petista sobre estes vínculos com a mafiosa cooperativa, disse reiteradas vezes à CPI que tudo é “coincidência” e justificou o empréstimo: “ foi feito para uma pessoa que trabalhou 17 anos comigo”- no caso, o sobrinho, com quem disse não ter muitas relações, contrariando os esforços que fez para ajudá-lo.

O dinheiro que deveria ter ido para Hospital de Câncer, mas não foi

Durante CPI a deputada Beth Sahão retomou uma das respostas do depoente e perguntou sobre verba de R$1,5 milhão que deveria ter chegado ao Hospital de Câncer de Barretos por intermédio da COAF, entre outros envolvidos. “Como funcionou, como funcionaria? Como uma cooperativa desta poderia deslocar recurso tão alto para um hospital? Como houve triangulação se a COAF não tinha lastro financeiro para pensar em R$1,5?

Misiara respondeu que o dinheiro não era da cooperativa, e mencionou um departamento da CONAB (Companhia nacional de Abastecimento), no Ministério da Agricultura, “que atende às cooperativas que indicam entidades filantrópicas para receber doações. Eles indicam, a CONAB dá o dinheiro, a cooperativa compra”. Segundo Misiara, o dinheiro entrou na conta da COAF e saiu, sem ter chegado ao hospital de Barretos.

…E, além de sócio, lobista

“Nos Estados Unidos o lobby é legalizado. As empresas entram com pedido no Senado, falam como é que vai ser o lobby, quanto vão gastar. Aqui acharam outros nomes: presidente da União dos Vereadores, vendedores, representantes comerciais. Na verdade, Misiara, com todo respeito. O senhor é um lobista”.
A fala acima, do deputado João Paulo Rillo, expressa as ressalvas dos deputados da Bancada com relação ao depoimento de Sebastião Misiara, que não convenceu os deputados da Bancada petista em suas explanações na CPI da Máfia da Merenda.

Outras ligações de Misiara com COAF que causaram estranheza à CPI

Além de ser tio de Girardi, ter sido fiador para a empresa e ter emprestado dinheiro à cooperativa sem maiores garantias de recebimento, outro fato chamou a atenção dos deputados petistas. Os parlamentares passaram a vê-lo como intermediário do contato entre COAF e governo do Estado, pois “coincidentemente” Misiara retira-se de cena quando o lobista Marcel Ferreira Julio é convocado pela cooperativa e passa a fazer ponte entre agentes públicos e cooperativa.

A deputada Marcia Lia estranhou o fato de Misiara dizer não conhecer as plantações de Bebedouro, cidade onde está sediada a COAF, e arredores. “O senhor sabia que lá não tem laranja, só tem cana de açúcar? Ninguém alertou ninguém?”.

José Zico Prado, líder da Bancada do PT na Alesp, aproveitou a oportunidade para falar de Projeto de Lei de sua autoria que retira obrigatoriedade dos pequenos agricultores e cooperativas registrarem-se à OCESP (Organização de Cooperativas do Estado de São Paulo), já que o registro, documento que foi falseado pela COAF, pode ser inviável para alguns trabalhadores.
“Está comprovado que ter registro na OCESP não mostra se a empresa é legal ou não. Quero que seja retirada essa questão de que o pequeno ou médio agricultor primeiro tem que se filiar à OCESP, porque é o único estado do Brasil que tem essa obrigatoriedade. Ninguém é obrigatório a fazer parte de uma associação se não quiser”, defendeu Zico Prado.

O deputado Alencar Santana Braga, único membro efetivo da oposição na CPI, perguntou a Misiara a razão que o levou a entrar na “confusão” do caso COAF.

“A UVESP representa vereadores. Você disse que na questão do SEBRAE atuou junto às Câmaras para criação das leis. Neste caso não vi onde as Câmaras seriam beneficiadas na questão de defender o setor cítrico de uma região que produzia mais laranjas para vender em outros lugares”.

Misiara, que diz ter agido em prol dos pequenos e médios agricultores, continuou afirmando que se envolveu com caso COAF para auxiliar seu sobrinho, que “não queria perder seu emprego”. Por isso também recomendou a Girardi que passasse a fornecer, ajudado pelo tio, alimentos para hospitais e setor hoteleiro. Misiara chegara até mesmo a ceder uma sala na UVESP para “showroom dos produtos” do sobrinho, mas disse que exposição nunca aconteceu.

Segundo depoente falta

Aquele que seria o segundo depoente do dia, Yuri Keller, que compunha comissão de licitações e contratos da Secretaria de Educação do Estado na época em que se firmou contrato com a COAF, não compareceu à CPI para prestar depoimento. Yuri será chamado novamente e, caso não compareça, será chamado coercitivamente.

Marina Moura

Leia mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *