Seca a cada 3.378 anos? Tucanaram o racionamento

16/05/2014

Falta de água

Seca a cada 3.378 anos? `Tucanaram o racionamento`

Especialista desanca estudo realizado pelo governo Alckmin, que mais uma vez culpa a chuva pela crise hídrica e se isenta de responsabilidade

O governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) insiste, “não há racionamento no estado”. O coordenador da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental, Edson Aparecido da Silva, discorda: “Não tenho a menor dúvida de que vivemos um racionamento.”

Para o especialista, o governador tem encontrado subterfúgios para explicar a atual crise hídrica. “Ele ‘tucanou’ o ‘racionamento’, chama de tudo que é nome: ‘controle’, ‘escassez’, ‘economia’, enfim, menos racionamento.”

O especialista não só diverge de Alckmin sobre o racionamento como desanca o relatório técnico produzido pelo Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos do governo paulista. O levantamento afirma que estiagem tão crítica quanto a que vivemos só ocorre a cada 3.378 anos.

“Não sei de onde eles tiraram isso. Essa informação não procede. A informação que nós temos, e que o próprio governo trabalhava, é que o estado já viveu uma crise de escassez de água na década de 50, entre 53 e 54, na mesma proporção da que vivemos hoje”, instrui o especialista.

Confira a entrevista:

SPressoSP – O que o senhor achou do levantamento do governo de São Paulo, que afirma haver estiagem na proporção que vivemos a cada 3.378 anos?
Edson Aparecido da Silva – Não sei de onde eles tiraram isso. Essa informação não procede. A informação que nós temos, e que o próprio governo trabalhava, é que o estado já viveu uma crise de escassez de água na década de 50, entre 53 e 54, na mesma proporção da que vivemos hoje. Em 2004, o sistema também chegou em um ponto crítico, à época foram 22%. Então, esse número não tem nenhum amparo técnico que o sustente.

SPressoSP – Ao contrário do que diz o governador Alckmin, o senhor reconhece que há racionamento em São Paulo?
Edson Aparecido da Silva – Não tenho a menor dúvida de que vivemos um racionamento. A própria Sabesp já foi obrigada a reconhecer isso. Ele ‘tucanou’ o ‘racionamento’, chama de tudo que é nome: ‘controle’, ‘escassez’, ‘economia’, enfim, menos racionamento, mas vivemos sim um racionamento, camuflado, não assumido pelo governo de São Paulo. Infelizmente, quem acaba mais afetado por esses mecanismos de controle é a população que habita as periferias da cidade pois eles estão nas pontas de rede de água ou nos lugares mais altos.

SPressoSP – O quanto é responsável pela crise o governador Alckmin?
Edson Aparecido da Silva – A gestão do governador é uma gestão temerária, porque as pessoas estão correndo risco. Você ser privado do acesso a água é algo terrível, isso sem contar do impacto disso na indústria, no comércio, enfim, nos meios de produção, da economia.

SPressoSP – Então, para o senhor, a culpa é da Sabesp?
Edson Aparecido da Silva – Não é só da Sabesp, é também do governo atual a responsabilidade por essa crise. A Sabesp é um empresa estatal, responde ao Estado. A direção da empresa é negligente, porque é possível pela capacidade técnica e pelo grau de conhecimento que já temos prever que isso aconteceria e tomar atitudes que não nos deixariam chegar nesse ponto. Desde que a Sabesp se abriu para o mercado e começou a ter ações nas Bolsas de Valores, ela passou a ter uma gestão muito voltada para atender os interesses dos seus acionistas, não teria problema nenhum uma empresa dar lucro, mas desde que isso não se torne o norte da empresa. A Sabesp deveria atender a população, garantido água para a sociedade paulista, inclusive para quem não tem condição de pagar. De 2003 até 2013, a Sabesp teve R$ 13 bilhões de lucro líquido, é uma quantia significativa, mas que não vimos sendo aplicada no sistema de reabastecimento de São Paulo.

fonte: site Spressosp

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