Situação das ossadas de Perus: a omissão das autoridades em localizar desaparecidos

21/05/2013

Comissão da Verdade

A Comissão da Verdade de São Paulo Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Digo, realizou, nesta segunda (20/5), uma audiência para discutir a situação das ossadas da vala do cemitério de Perus.

Investigação em Perus

Os trâmites para a abertura da vala de Perus e a tentativa de identificação das ossadas foi lembrada por Suzana Lisboa, viúva de Luiz Eurico Lisboa, cujo corpo poderia ser encontrado lá. Mas apenas em 2012, ela obteve a confirmação do assassinato de seu marido. Suzana comentou o trabalho do legista Badan Palhares, na Unicamp, o qual considerou suspeito, o que foi de certa forma confirmado agora, em 2013, com a análise feita das ossadas pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF). “Não é possível que a história continue no lixo que ficou todos estes anos”, finalizou.

“Quando vi a reportagem de Caco Barcellos na TV levei um susto”, recordou Tereza Lajolo, vereadora à época. Foi instalada então na câmara paulistana uma CPI para investigar as ossadas, onde todos os depoimentos apontaram uma conexão entre Brasília, o Estado e a cidade, até no cemitério, tudo para concretizar a ocultação dos cadáveres da ditadura, disse.

Tereza acredita que pequena parte das ossadas seja de militantes políticos, sendo as demais de indigentes e de mortos da epidemia de meningite. Perus é até hoje um cemitério para indigentes e, em seu plano de implantação, era prevista a instalação de um forno crematório, que não teria sala para cerimônias, ou seja, iria ser usado para queimar corpos. Na falta dele, decidiu-se “sumir” com as ossadas abrindo a vala comum.

O cemitério de Perus foi inaugurado em 1971, na gestão de Paulo Maluf, lembrou Rui Alencar, superintendente do Serviço Funerário Municipal quando da abertura da vala. Disse também que havia policiais, como Romeu Tuma Jr., atuando no Serviço Funerário na época.

Vila Formosa

Antes de 1971, os indigentes eram sepultados em valas comuns no Cemitério de Vila Formosa, disse Ivan Seixas, coordenador da Comissão da Verdade. Ele demonstrou como o terreno do cemitério foi alterado, o que destruiu a chamada “quadra dos terroristas”, que também abrigava executados pelo Esquadrão da Morte. Com essas mudanças, que incluíram a construção de um velório sobre os ossos, que foram jogados em valas comuns. Seixas defendeu também a construção de memorial no Cemitério de Vila Formosa.

Para a procuradora regional do Ministério Público Federal em São Paulo, Eugênia Augusta Gonzaga, nessa história sempre aparecem fatos novos, mas que confirmam a omissão das autoridades em localizar esses desaparecidos (da vala), já que o processo vem desde 1999.

Secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Rogério Soullite destacou a importância do momento histórico que o Brasil vive, com o funcionamento das comissões da verdade. Também falaram sobre a vala de Perus a vereadora Juliana Cardoso, da Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog, e Maria Amélia Teles, coordenadora da Comissão da Verdade.

No dia 21/5, às 16h, nova audiência da Comissão da Verdade abordará os casos de Sônia Maria Angel Jones e Antonio Carlos Bicalho Lana, cujos corpos foram achados em Perus.

A vala

Em 4/9/1990, durante a gestão de Luiza Erundina frente à prefeitura da capital, foi determinada a abertura de vala comum no Cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus, onde estariam ossadas que teriam pertencido a desaparecidos políticos. O fato foi denunciado por reportagem de Caco Barcellos, da Rede Globo.

Aberta, a vala revelou 1.049 ossadas. Foi feita uma investigação a pedido da família de seis desaparecidos políticos, com base nos livros de registro do cemitério, onde teriam sido enterrados, em alguns casos, com os nomes falsos que usavam. Para isso, foi firmado um convênio com a Unicamp. Logo foram identificados Dênis Casemiro e Frederico Eduardo Mayr. No cemitério, ainda foram identificados os corpos de Sônia Maria Angel Jones, Antonio Carlos Bicalho Lana e Helber José Gomes Goulart. No fim do mandato de Erundina, o trabalho com as ossadas foram abandonados.

Por pressão dos familiares, conseguiu-se em 1990 acesso aos arquivos do IML e, em 1992, aos do antigo Dops. Em 1999, o Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito sobre o abandono das ossadas que, em 2001, foram enviadas ao columbário do Cemitério do Araçá. Na sequência, foram identificados Flávio de Carvalho Molina e Luiz José da Cunha, o Criolo, respectivamente em 2005 e 2006.

O MPF, em 2006, entrou com ação civil pública de responsabilização pela demora na identificação das ossadas. Em 2012, a Associação Brasileira de Anistiados Políticos (Abap) doou verba para auxiliar nas identificações das ossadas. Foi então contratada a Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), para avaliar as ossadas e propor um plano para sua identificação. Procurou-se inicialmente pelos restos de Hiroake Torigoe, que não foram achados nas 21 caixas analisadas.

fonte: Agência Alesp

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