Sugerir que empresas liguem geradores é a solução do governo Alckmin aos apagões

16/02/2011 16:13:00

Privataria tucana

 

Omitindo responsabilidade sobre a falta de investimentos no setor causada por fúria privatizante dos tucanos, governo do Estado parece ironizar a questão

O secretário de Energia do governo do Estado, José Aníbal, sugeriu uma saída para os apagões que devem continuar frequentes para os paulistas: que as empresas liguem seus geradores na hora do pico.

Tucanamente, o secretário de Alckmin repassa a solução à sociedade, “esquecendo-se” que o principal motivo é falta de investimento da CTEEP – ex-estatal paulista privatizada pelos tucanos – para a construção de subestações de energia. E mais, resume os problemas causados pelo apagões somente às empresas, “esquecendo-se” mais uma vez do consumidor comum, que tem sua vida afetada pelo caos que se transforma o trânsito na cidade, com semáforos desligados, com os sistemas de trens e metrô paralisados e até com a falta de água, porque não há energia para o bombeamento da mesma até as residências.

A fúria privatizante dos governos tucanos demonstra suas graves consequências. Privatizações  iniciadas na década de 90, justamente por Geraldo Alckmin, então presidente do PED – Programa Estadual de Desestatização – no governo Mário Covas. Só na área de energia foram privatizadas a CPFL, Eletropaulo/AES, Cesp Paranapanema, Cesp Tietê e a CTEEP.

Em artigo no jornal Folha de S. Paulo, nesta quarta-feira (16/2), o colunista Elio Gaspari, descreve sobre as consequências da privataria tucana e o descalabro do secretário José Aníbal de solucionar a questão da falta de energia elétrica com geradores.

Leia, a seguir, o artigo de Elio Gaspari.

O tucanato vendeu o patrimônio da Viúva e agora sugere que a patuleia compre geradores de energia

O secretário de Energia do governo de São Paulo, José Aníbal (PSDB-SP), anunciou que shoppings centers, empreendimentos comerciais e conjuntos habitacionais “vão ter que ter” geração própria para evitar apagões. Nas suas palavras:”Nos momentos de pico, eles saem da rede e fazem geração própria. Vai ter que trabalhar nisso. Isso não é só saudável do ponto de vista do conjunto do sistema, como é prudente do ponto de vista das insuficiências da transmissão da empresa que está aí. Vamos estimular”.

O que o doutor propõe é um salto para o século 19, com a criação de um sistema avulso de geração de energia elétrica, o “macrogato”. Um absurdo ambiental, porque os geradores queimam óleo diesel; econômico, porque o equipamento de um edifício residencial custa algumas dezenas de milhares de reais; e financeiro, porque o freguês gastará com a manutenção da máquina enquanto ela estiver parada.

Tudo isso e mais a pontual conta de uma energia que às vezes vem, mas pode não vir. Há 12 anos, quando o tucanato vendeu a Eletropaulo, prometiam-se rios de mel. Os novos donos fariam investimentos, o sistema melhoraria e todo mundo ficaria feliz, até porque a estatal se tornara um ninho de espertalhões.

Em 1998, a Eletropaulo foi vendida pelo preço mínimo porque um dos arrematantes, a AES, tinha um contrato de gaveta com o consórcio rival da Enron. O BNDES financiou os compradores e, já no governo petista, a AES não pagou uma dívida de US$ 336 milhões. Resolveu-se o calote espichando-se o prazo do empréstimo. (Entre 1998 e 2001, a AES remeteu aos seus acionistas internacionais US$ 318 milhões.)

A privataria tucana transformou-se na privataria petista, subordinando o Ministério de Minas e Energia, bem como a Aneel, ao aparelho dos companheiros-empresários.Por conta da decadência do sistema elétrico (“o melhor do mundo”, para o ministro Edison Lobão), pode-se estimar que haja em São Paulo algo como 20 mil geradores instalados até mesmo em restaurantes e edifícios residenciais. No Rio podem ser 5.000. Essa gambiarra degenera o sistema, remunera a inépcia e derruba a produtividade da economia. Num país onde os cidadãos pagam duas vezes pela educação e pela saúde (uma para a Receita e outra para a rede privada), o doutor José Aníbal apresenta a matriz energética do “gato”. Vale lembrar que o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, era o presidente do Conselho Diretor do Programa de Desestatização do Estado quando a Eletropaulo foi vendida.

O sistema elétrico brasileiro, como o ferroviário e o de telefonia, já foi privado, passou para a Viúva e retornou ao mercado. Em tese, o empresário presta o serviço, recebe tarifas, investe e remunera-se. Na prática, uma relação incestuosa entre os operadores e o Estado resulta no desestímulo aos investimentos e na degradação dos serviços. Nessa hora, se a empresa é pública, privatiza-se. Se é privada, estatiza-se. Na ida ou na volta, alguns maganos fazem a festa.

Quando o secretário de Energia de São Paulo sugere a criação de um “gato” de geradores, pode-se suspeitar que a estatização passou a ser vista como um bom negócio pelos concessionários beneficiados pela privataria.

 

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