Vala Comum de Perus

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia legislativa ouviu nesta terça-feira (10/9) a superintendente da Polícia Científica do Estado de São Paulo, Norma Sueli Bonaccorso, para esclarecer os motivos da demora em identificar os restos mortais da Vala do Cemitério Dom Bosco, em Perus.
Norma reiterou por vários momentos que, na ocasião em que o material chegou ao Instituto de Criminalística, ela era apenas consultora, que foi eventualmente ouvida sobre os recursos necessários para a identificação das ossadas.
Segunda a superintendente, o Instituto recebeu um “scaner” do governo federal, mas este equipamento não foi destinado à identificação do material recolhido na Vala Comum do cemitério de Perus, pois o Instituto de Criminalística recebe muitos casos para identificar no dia-a-dia.
Questionada sobre o porquê não realizou a identificação dos ossos, Bonaccorso deu duas versões, a primeira é que não tinha a responsabilidade sobre a análise do material e na, segunda colocação, disse que para identificar precisava de material de parentes dos mortos e que nunca havia recebido material para identificar o DNA.
O presidente da Comissão deputado Adriano Diogo, lembrou que passados 23 anos das mortes, os ossos estão bastante desgastados, o que pode comprometer ainda mais a identificação dos restos mortais e dificulta as famílias à oferecem ritos de despedidas de seus entes falecidos.
O deputado Marco Aurélio de Souza indagou sobre a estrutura física e humana do Instituto. Bonaccorso informou que, quando no fim dos anos 80, o órgão contava com quatro peritos e hoje tem dezesseis profissionais.
Outra questão posta pelo deputados à superintendente foi se ela faria o trabalho de identificar a quem pertencem os ossos. Desde que eu tenha equipe e as condições eu assumo o compromisso, disse Bonaccorso.
Lembrando o caso
Em 1990, no dia 4 de setembro, foi aberta a vala de Perus, localizada no cemitério Dom Bosco, na periferia da cidade de São Paulo. Lá foram encontradas 1.049 ossadas de indigentes, presos políticos, mortos pela epidemia de meningite e vítimas dos esquadrões da morte. Seis presos políticos deveriam estar enterrados nesta vala, de acordo com os registros do cemitério: Dênis Antônio Casemiro, Dimas Casemiro, Flávio Carvalho Molina, Francisco José de Oliveira, Frederico Eduardo Mayr e Grenaldo de Jesus da Silva.
O cemitério Dom Bosco foi construído pela prefeitura de São Paulo, em 1971, na gestão de Paulo Maluf e, no início, recebia cadáveres de pessoas não identificadas, indigentes e vítimas da repressão política. Fazia parte de seu projeto original a implantação de um crematório, o que causou estranheza e suspeitas até da empreiteira chamada a construí-lo. Este projeto de cremação dos cadáveres de indigentes, do qual só se tem notícia através da memória dos sepultadores, foi abandonado em 1976. As ossadas exumadas em 1975 foram amontoadas no velório do cemitério e, em 1976, enterradas numa vala clandestina.