Comissão da Verdade
Dando continuidade à investigação da tragédia que foi o incêndio da Vila Socó, a Comissão Estadual da Verdade, presidida pelo deputado Adriano Diogo, ouvirá Shigeki Ueki, na quarta-feira, dia 30 de julho, às14 horas, na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Ueki foi ministro de Minas e Energia no governo Ernesto Geisel de 1974 a 1979 e presidente da Petrobras durante o período do Figueiredo de 1979 a 1984, quando aconteceu o incêndio que vitimou centenas de pessoas em Cubatão
A audiência será realizada em parceria com a Comissão da Verdade da OAB de Cubatão.
30 anos depois
Depois de 30 anos, o ex-presidente da Petrobrás Shigeaki Ueki será ouvido sobre as circunstâncias, omissões e responsabilidades no caso do incêndio da Vila Socó, em Cubatão, em que morreram cerca de 508 pessoas, na sua maioria migrantes nordestinos pobres e negros, de acordo com números extra-oficiais divulgados à época. O incêndio aconteceu na madrugada de 25 de fevereiro de 1.984 e resultou do vazamento de 700 mil litros de gasolina das tubulações da empresa, em função da ausência de manutenção e de um erro de operação.
O nome de Ueki deixou de ser relacionado ao caso após a Operação Abafa desencadeada pelo governo – o presidente à época era o general João Batista Figueiredo, o último do período militar. Como parte dessa Operação, o número oficial de mortos foi reduzido a 93 um terço dos quais crianças , o direito das vítimas à indenização foi ignorado e os responsáveis pelo incêndio jamais foram punidos. Segundo peritos que auxiliaram o trabalho de investigação do Ministério Público, à época, famílias inteiras desapareceram sob as chamas.
Tragédia
A tragédia da Vila Socó foi o incêndio com maior número de vítimas no Brasil. Além das vítimas fatais, dezenas de pessoas ficaram feridas e foram internadas nos Hospitais da Baixada Santista. Antes disso, apenas o Gran Circo Norte-Americano de Niterói teve um número aproximado 500 mortos e cerca de 180 mutilados.
O caso foi reaberto por iniciativa da Comissão da Verdade da OAB/Cubatão e da Comissão da Verdade Rubens Paiva da Assembleia Legislativa de S. Paulo. Segundo o presidente da Comissão, deputado Adriano Diogo, o depoimento de Ueki será fundamental para esclarecer pontos que “permanecem obscuros”.
Um desses pontos é porque a Petrobrás presidida por ele, não aceitou indenizar crianças de até 12 anos, sob o argumento de que não eram força produtiva. Um outro dado é porque razão se construiu um número oficial de 93 mortos quando os próprios peritos que trabalharam no caso em apoio ao Ministério Público, falam de 508 mortos número considerado conservador, e que ganhou as manchetes dos principais jornais do mundo, entre os quais, o New York Times.
Ueki também será questionado sobre a real dimensão do vazamento de gasolina, já que o perito Jorge Moreira, que trabalhou auxiliando o Ministério Público nas investigações afirmou em depoimento a Comissão da Verdade da OAB/Cubatão, que o vazamento foi de cerca de 2 milhões de litros de gasolina e não 700 mil – a versão oficial. Os membros da Comissão suspeitam que a subestimação do vazamento seja parte da manobra para reduzir o tamanho da tragédia, manobra que teria sido montada pelas autoridades preocupadas com o impacto do número de vítimas para a imagem da estatal dentro e fora do país.
Depoimentos
Além de Ueki deverão ser ouvidos na audiência, os depoimentos dos jornalistas Carlos Dorneles, Carlos Nascimento, Alberto Gaspar e Isabela Assunção, que cobriram a tragédia para a Rede Globo de Televisão. Também serão convidados o promotor do caso, Marcos Ribeiro de Freitas, e as diretoras das Escolas João Ramalho e Estado do Mato Grosso, parentes de sobreviventes. (*com informações da Agência de Notícias AfroPress)
* Todas as atividades realizadas na Assembleia Legislativa de São Paulo têm transmissão ao vivo pela internet. Acesse o link www.al.sp.gov.br/a-assembleia/tv-web* e escolha no box o Auditório onde ela está sendo realizada.
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