CPI
Vítimas que passam a ser discriminadas pela sociedade, agressores que acabam ganhando a solidariedade da comunidade. Essa perversa inversão de papéis, que aconteceu em Porto Ferreira, no interior do Estado, envolvendo a denúncia de adolescentes que teriam sofrido abusos cometidos por políticos e empresários locais, foi relatada pelo prefeito Maurício Rasi, ouvido nesta terça-feira (22/6), pela CPI da Pedofilia, na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Antes de eleger-se prefeito em 2005 (e reeleger-se em seguida), Rasi foi o delegado que, em 2003, presidiu a investigação para apurar a denúncia de que adolescentes de 13 a 16 anos eram agenciadas para participar de festas em que mantinham relações sexuais com vereadores e empresários. Doze acusados tiveram mandado de prisão preventiva expedido, e 11 deles foram cumpridos.
“Num primeiro momento, houve revolta e ameaças de linchamento na cidade. Cerca de 20 dias depois, as vítimas começaram a ser tratada como objetos, como se tivessem provocado a prática daqueles crimes”, disse Rasi. Por outro lado, segundo ele, a acusação foi perdendo força e os denunciados passaram a ser vistos como vítimas, até mesmo pela mídia.
Inversão de valores
“Não é possível jogar um caso desses para baixo do tapete só para que a cidade mantenha sua imagem, para rejeitar o que a população considera publicidade negativa”, observou a deputada Beth Sahão (PT), relatora da CPI.
Tanto ela quanto Rasi consideram o caso de Porto Ferreira emblemático e impulsionador de novas medidas e formas de encarar o combate à pedofilia. No entanto, a inversão de posições destacada pelo prefeito se reafirma com a volta dos acusados às atividades normais, depois de cumprirem penas abrandadas pelo Tribunal de Justiça (as condenações de primeira instância foram mantidas). As vítimas continuaram enfrentando preconceitos e dificuldades para se reinserir socialmente.
“Como prefeito, já em 2005, conseguimos no máximo uma ação assistencialista. Algumas das meninas já tinham atingido a maioridade, outras estavam grávidas. Conseguimos qualificar algumas jovens e colocá-las no mercado de trabalho da cerâmica, tradicional na cidade. Mas não foi possível resgatar a identidade da maioria das meninas”, avaliou o prefeito.
Rasi detalhou aos deputados algumas iniciativas tomadas pela prefeitura de Porto Ferreira, durante sua gestão, para combater a violência doméstica e a pedofilia. Entre elas estão casas de acolhimento, estudo e qualificação profissional para inclusão social dos jovens. Mas ele reconheceu que a falha no suporte e acompanhamento psicológico, por parte do Poder Público, prejudica as ações que visam mostrar às vítimas da pedofilia a existência de um caminho além do trauma.
fonte: Agência Alesp